terça-feira, 30 de março de 2021

BOLETIM 3 ANO XVI

 A LIBERDADE DE IMPRENSA NO BRASIL E NO MUNDO

Destaques: Profissionais e veículos sofrem ataques em SP, GO, MG, BA e ES em março. STF mantém constitucionalidade do direito de resposta. ABI apoia movimento de Felipe Neto. Reino Unido cria Comitê para Segurança de Jornalistas. RSF denuncia sexismo na imprensa mundial.

Notas do Brasil

SUDESTE

São Paulo (SP) I - A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) identificou ao menos 174 casos de bloqueios de jornalistas por autoridades brasileiras no Twitter entre 2014 e 2021, em levantamento recente. A restrição de acesso a perfis de políticos com cargos públicos, como o presidente, ministros, deputados e senadores, afeta a 88 jornalistas no país (uma mesma pessoa pode ser bloqueada por várias autoridades). Dentre os casos avaliados, o presidente da República é o campeão de bloqueios: são 50. A Abraji começou a monitorar os casos em setembro de 2020, com financiamento da Open Society Foundations. O projeto segue até agosto de 2021, mas a Abraji pretende buscar novos recursos para dar continuidade ao trabalho. De forma geral, os casos registrados são de contas pessoais de autoridades – mas a Abraji identificou um bloqueio contra a jornalista Cecilia Olliveira, feito pelo perfil oficial da Polícia Militar do RJ. Olliveira também é diretora executiva do Instituto Fogo Cruzado, que reúne dados sobre violência armada. De acordo com a Abraji, os bloqueios aos jornalistas fazem parte de um contexto mais amplo de restrições ao acesso à informação e transparência no país e são “mais uma das diversas ameaças e violações a esses direitos”.

Serra (ES) - Equipes de reportagem de afiliadas da Globo e do SBT foram ameaçadas por homens armados na manhã de 2 de março, durante entradas ao vivo nos respectivos canais. No momento em que foram ameaçados, os repórteres das duas emissoras noticiavam a falta de ônibus em um bairro onde ocorreu um tiroteio na madrugada. Durante as entradas nos programas, dois homens se aproximaram das equipes em uma moto, mandaram que se retirassem do local e, em seguida, fizeram disparos para o alto. Ninguém ficou ferido.

Olímpia (SP) - Na madrugada de 17 de março, a sede do jornal Folha da Região sofreu um incêndio. A polícia suspeita que o ato tenha sido uma resposta ao posicionamento do veículo em defesa de medidas científicas e legais para enfrentar a pandemia. O caso está sendo investigado. O delegado Marcelo Pupo de Paula contou que câmeras de segurança de uma loja próxima ao jornal flagraram o momento, por volta das 4h30, em que um motociclista estacionou, lançou o combustível e ateou fogo no sobrado, onde também vive o dono do jornal, o jornalista José Antônio Arantes. Arantes, sua mulher e sua neta acordaram com latidos dos cachorros da família e perceberam que estavam sendo sufocados pela fumaça. Mesmo depois de se deparar com chamas muito altas, pai e neta se salvaram sem ferimentos. A esposa de Arantes teve queimaduras leves em um dos braços ao tentar salvar objetos de casa. Além de abrigar a redação do jornal mais antigo da cidade, o único que circula em papel, na sede funcionam o portal iFolha e uma rádio comunitária do mesmo grupo. Arantes apresenta um programa diário com ênfase em notícias locais, transmitido pelo Facebook, YouTube, e também pela rádio Cidade. Desde que publicou artigos condenando o comportamento negacionista de autoridades federais, o jornalista que tem sido vítima de intimidações e ameaças.

Rio de Janeiro (RJ) – O youtuber Felipe Neto anunciou, em 18 de março, o lançamento do movimento “Cala a Boca Já Morreu”, para garantir a defesa gratuita de pessoas investigadas por criticarem o governo federal na internet. Integrada inicialmente por algumas bancas de advogados, a frente vai atuar no âmbito de ações criminais, cíveis e administrativas. A articulação ocorreu no mesmo dia em que a Justiça do RJ concedeu liminar para suspender as investigações contra Neto, iniciadas pelo delegado Pablo Sartori, titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática, a pedido do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), após o youtuber ter chamado o presidente de “genocida”. O enquadramento de Neto na Lei de Segurança Nacional (LSN) foi rejeitada pela juíza Gisele Guida, da 38ª Vara Criminal. A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) declarou apoio público ao movimento ao qual já aderiram diversas personalidades, entre elas, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Sepúlveda Pertence, André Perecmanis, Evandro Pertence e Taís Gasparian,  uma das especialistas em liberdade de expressão no Brasil. Para o influenciador digital, o objetivo do “Cala Boca Já Morreu!” é impedir que a nossa sociedade seja silenciada por pessoas autoritárias, que pretendem governar de maneira não democrática. O presidente da ABI, Paulo Jeronimo, ao declarar apoio à iniciativa, afirmou que “é da história da Casa do Jornalista estar ao lado dos que lutam pela democracia”.

Belo Horizonte (MG) - A Associação Nacional de Jornais (ANJ) e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) repudiaram o ataque sofrido em 15 de março por um fotógrafo do jornal O Estado de Minas, cujo nome não foi divulgado por razões de segurança, enquanto cobria uma manifestação contra as medidas de combate à pandemia. O ataque, com fotos e vídeos, foi registrado em boletim de ocorrência. Nas imagens, o profissional é empurrado e ofendido pelos manifestantes, que tentam impedir que o jornalista grave e fotografe o ato. Após mostrar o crachá, o profissional sofreu ataques ainda mais violentos, incluindo um golpe de capacete.

CENTRO-OESTE

Goiânia (GO) - O repórter Maycon Leão, da TV Serra Dourada, e seu cinegrafista foram intimidados em 15 de março enquanto faziam uma transmissão ao vivo de uma manifestação na BR-153, pela liberação do comércio. Eles foram coagidos por um manifestante a encerrar a transmissão. O repórter afirmou que teve medo de ser linchado ou mesmo de ser alvo de outras agressões.

NORDESTE

Salvador (BA) – A fotógrafa Paula Fróes, do Jornal Correio, foi agredida verbalmente em 14 de março durante cobertura de manifestação contra as medidas de distanciamento. O caso ocorreu no bairro da Mouraria. Enquanto registrava  imagens do evento, a repórter foi chamada de “palhaça” e “vagabunda”, entre outras ofensas, e foi cercada pelos manifestantes simpáticos ao fim do distanciamento social.

NORTE

Icoaraci (PA) – O fotógrafo Akira Onuma, do jornal O Liberal, foi agredido por dois homens e teve sua máquina fotográfica danificada na manhã de 15 de março quando cobria um caso de assassinato na região metropolitana da capital paraense. O profissional aguardava a saída do corpo de um vigia vítima de homicídio dentro da escola pública na qual trabalhava. Ao registrar as imagens do local foi surpreendido por um dos agressores, que o impediu de fotografar a remoção do corpo - já coberto - por peritos. Parte da agressão foi gravada por um cinegrafista de uma emissora de TV que também cobria o crime. A máquina fotográfica foi levada para dentro da escola e atirada ao chão. Akira Onuma registrou boletim de ocorrências por agressão física e danos materiais. Peritos relataram à DP que o mesmo homem os desacatou e tentou agredi-los fisicamente.

JUDICIAIS

Brasília (DF) I – O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu manter, por 10 votos a 1, a constitucionalidade da Lei 13.888/2015, que regulamentou o direito de resposta nos meios de comunicação. A Corte finalizou o julgamento de três ações protocoladas pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e entidades que representam os jornais do país. A maioria dos ministros manteve os principais pontos da norma, mas invalidou a aplicação do Artigo 10, que garantia somente a órgãos colegiados dos tribunais a possibilidade de concessão de recurso para suspender a publicação da resposta. Com a decisão, eventuais recursos poderão ser julgados individualmente pelos magistrados integrantes de tribunais. A lei foi sancionada em novembro de 2015. O texto prevê que uma pessoa que se considerar ofendida por qualquer reportagem, nota ou notícia divulgada em um veículo de comunicação pode pedir direito de resposta, que deverá ser divulgada com o mesmo destaque da publicação original. O veículo tem sete dias para publicar a retratação espontaneamente, e, se o não fizer, o ofendido poderá recorrer à Justiça.

São Paulo (SP) II – Com o entendimento de que “a liberdade de expressão ou de pensamento não é ilimitada, devendo observar o direito alheio, especificamente a intimidade, a honra e a imagem”, a juíza Inah de Lemos e Silva Machado, da 19ª Vara Civil de SP, condenou o presidente da República a indenizar em R$ 20 mil a jornalista Patrícia Campos Mello, do jornal Folha de S.Paulo. Ao analisar a matéria, a juíza apontou que Bolsonaro violou a honra da jornalista, “causando-lhe dano moral, devendo, portanto, ser responsabilizado”. Conforme a julgadora, o uso da palavra “furo” em sentido dúbio repercutiu tanto na mídia como nas redes sociais, violando a honra da profissional. “Ela [repórter] queria um furo. Ela queria dar o furo [risos dele e dos demais]”, disse o presidente diante de um grupo de simpatizantes em frente ao Palácio da Alvorada. Após uma pausa durante os risos, o político concluiu: “a qualquer preço contra mim”. A jornalista havia publicado reportagem baseada em documentos que mostram que uma empresa de marketing digital recorreu ao expediente de usar de forma fraudulenta nome e CPF de idosos para registrar chips de celular e disparar mensagens em favor do então candidato a presidente. Posteriormente, a chamada CPMI das fake news colheu o depoimento de Hans River Rio do Nascimento, ex-funcionário da empresa de marketing digital. Ele afirmou à CPMI que a jornalista queria receber informações “a troco de sexo”. A conduta do presidente, apreciada pela juíza, é um comentário à fala de Hans River, divulgado em redes sociais. Cabe recurso.

Brasília (DF) II - O exercício concreto da liberdade de imprensa assegura ao jornalista o direito de expender críticas a qualquer pessoa, ainda que em tom áspero ou contundente, especialmente contra as autoridades e os agentes do Estado. Com esse entendimento, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), acatou os argumentos da defesa do jornalista Luiz Nassif contra acórdão do Tribunal Justiça de SP que havia condenado o jornalista a pagar indenização por danos morais de R$ 30 mil ao Movimento Renovação Liberal, proprietário da marca Movimento Brasil Livre (MBL). O texto que motivou o processo foi publicado no Jornal GGN. Nassif afirmou que, como a “Lava Jato” se tornou uma organização política, iria usar os R$ 2,5 bilhões do fundo constituído com recursos da Petrobras para financiar organizações que empunhassem suas bandeiras. Nassif citou o MBL. “O Movimento Brasil Livre foi financiado com R$ 5 milhões, com a missão grandiosa de defender a iniciativa privada. Gerou um batalhão de candidatos políticos.” Por fim, Lewandowski ressalta que a importância do direito de resposta continua plenamente vigente sendo “exercitável por parte daquele que se vê ofendido em sua honra objetiva, ou então subjetiva, conforme estampado no inciso V do artigo 5° da Constituição Federal”.

Várzea Grande (MT) - O juiz Otávio Peixoto, do Juizado Especial Cível, julgou improcedente pedido de indenização por danos morais contra o jornalista Ricardo Noblat. Na ação, o autor sustenta que participa de um movimento político chamado “Direita Mato Grosso” e que esse grupo se dirigiu a Brasília no dia 7 de maio de 2020 para demonstrar apoio ao presidente da República. O requerente alega que teve sua imagem exposta pelo jornalista em seu blog na revista Veja e que foi comparado com um guerrilheiro nazista que saudava Hitler. O homem defende que se tratava apenas de uma oração e pedia a condenação do jornalista em R$ 41 mil, por danos morais. Ao analisar a reportagem, o juízo indeferiu o pedido, visto que é impossível a identificação direta de pessoa fotografada.

Pelo mundo

Argentina I - A Associação das Entidades Jornalísticas (Adepa) repudia os ataques e intimidações produzidos por manifestantes da Central de Trabalhadores da Argentina (CTA-Autónoma) na redação do Diário Río Negro, em General Roca, que ocorreram em 23 de março, e exige a investigação judicial do fato, bem como a punição dos responsáveis. Os agressores entraram à força no edifício central no veículo e, uma vez lá dentro, destruíram, picharam as paredes e os móveis, ameaçaram e espancaram o recepcionista e um fotógrafo. O prédio do jornal ficou totalmente destruído, com pichações e pôsteres em uma clara mensagem de intimidação contra o veículo e seus trabalhadores. Além disso, o jornalista Luis Leiva foi ameaçado de morte.

Inglaterra - O governo britânico criou um Comitê Nacional para a Segurança do Jornalistas com a missão de implantar medidas que assegurem aos profissionais as condições para realizar seu trabalho livres de danos físicos e de ameaças. Integrado por representantes da administração pública, do setor jornalístico, das forças policiais, das promotorias de justiça e de entidades de defesa da liberdade de imprensa, o grupo tem como primeira tarefa desenvolver um Plano de Ação Nacional, com iniciativas para garantir a segurança dos jornalistas. Algumas delas já saíram do papel mesmo antes do plano. O Conselho Nacional de Chefes de Polícia nomeou um representante, Gavin Stephens, para assumir a responsabilidade em nível nacional por crimes contra jornalistas. E cada unidade local da polícia terá um oficial designado para cuidar de ameaças à imprensa. O Comitê anunciou também o plano de treinar policiais para a investigação de crimes contra a imprensa e para a proteção dos jornalistas em coberturas de manifestações públicas, com o apoio do Sindicato Nacional de Jornalistas e da Sociedade de Editores.

França – A ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF) denunciou no Dia Internacional da Mulher (8 de março) que o sexismo tem afetado a atividade jornalística em todo o mundo. A RSF entende como sexismo todas as formas de violência sexual e de gênero, entre elas discriminação, insultos, assédio sexual, toque, agressões verbais e físicas de natureza sexual, ameaças de estupro ou estupro. O documento revela a extensão dos riscos de violência sexual e de gênero enfrentados por mulheres jornalistas e seu impacto na sociedade. A pesquisa foi feita com base em respostas de profissionais de 112 países, em cinco continentes. De todas as nações que participaram, 40 foram consideradas perigosas ou muito perigosas para as mulheres na profissão. O Brasil está na categoria de nação perigosa.

Argentina II – A Associação de Entidades Jornalísticas Argentinas ( Adepa ) alertou sobre a prisão de um jornalista e tiros com balas de borracha em outro profissional durante uma passeata de bairro na capital Formosa devido às novas restrições do governo Gildo Insfrán em razão da pandemia. Por meio de um comunicado, Adepa narrou a situação atual e todas as violações da liberdade de expressão na província.

Afeganistão - Três funcionárias da emissora local Enikass TV foram mortas a tiros na cidade de Jalalabad, em 23 de março, após deixarem o local de trabalho. Nos últimos meses, mulheres profissionais de imprensa têm sido alvo frequente de atentados na região. As vítimas foram mortas em dois ataques distintos, que deixaram outras duas pessoas feridas. “Elas estavam voltando do escritório para casa a pé quando foram baleadas”, disse. Um suspeito armado foi levado sob custódia após os tiroteios, mas as autoridades ainda procuram outros culpados.

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A Associação Riograndense de Imprensa (www.ari.org.br) disponibiliza o correio eletrônico imprensalivre@ari.org.br aos profissionais e estudantes da comunicação social para as denúncias envolvendo atentados ao livre exercício da profissão de jornalista.

O programa Conversa de Jornalista, transmitido aos sábados pela Rádio da Universidade AM 1080 Mhz, de Porto Alegre (RS), apresenta a resenha das ocorrências nacionais e internacionais sobre liberdade de imprensa e expressão.

Fontes: ARI (www.ari.org.br), ABI (www.abi.org.br), Fenaj (www.fenaj.org.br), ANJ (www.anj.org.br), Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br), Abert (www.abert.org.br), Abraji (www.abraji.org.br), Portal Imprensa (www.portalimprensa.com.br), Rede em Defesa da Liberdade de Imprensa (www.liberdadedeimprensa.org.br), Portal Coletiva (www.coletiva.net), Consultor Jurídico (www.conjur.com.br), Sociedade Interamericana de Imprensa (Miami), Federação Internacional deJornalistas (www.ifj.org) (Bruxelas), Sindicato dos Jornalistas de Portugal (www.jornalistas.eu)(Lisboa), ONG Repórteres Sem Fronteiras (www.rsf.org) (Paris), Portal Comunique-se (portal.comunique-se.com.br), Comitê de Proteção aos Jornalistas (Nova Iorque), Centro Knight para o Jornalismo nas Américas (knightcenter.utexas.edu), ONG Campanha Emblema de Imprensa (PEC), Freedom House (www.freedomhouse.org), Associação Mundial de Jornais (www.wan-ifra.org), Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), da Organização dos Estados Americanos (OEA) (http://www.oas.org/pt/cidh/), Fórum Mundial dos Editores e outras instituições e entidades de defesa do livre exercício da profissão de jornalista.

Pesquisa e edição: Vilson Antonio Romero (RS)

vilsonromero@yahoo.com.br

segunda-feira, 1 de março de 2021

BOLETIM 2 ANO XVI

A LIBERDADE DE IMPRENSA NO BRASIL E NO MUNDO 

Destaques: Quebra de sigilo da fonte é arquivado mais de dez anos depois. RSF lança campanha “Verdade Nua” no Brasil. Ataques contra jornalistas acontecem em Cuba, Haiti, Colômbia e Peru. Egito liberta comunicador da Al-Jazeera mantido quatro anos preso sem acusação formal.

Notas do Brasil

Vitória (ES) - A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) ingressou em 24 de fevereiro com pedido de habeas corpus na 2ª Vara Criminal de Vitória (ES), com o objetivo de trancar um inquérito policial contra a Folha do ES, aberto a pedido da Procuradora-Geral de Justiça do estado, dentro da chamada Operação Yellow Press. A ABI denuncia o abuso de autoridade, cometido pela Procuradora-Geral de Justiça, bem como a violação à liberdade de expressão contra a Folha ES, por denúncias envolvendo o governo estadual.

São José do Rio Preto (SP) – A quebra do sigilo da fonte do repórter Allan de Abreu, atualmente na revista piauí, foi julgada improcedente pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mais de uma década depois da tentativa. Em 2011, quando trabalhava no jornal Diário da Região, de São José do Rio Preto, Allan assinou uma reportagem que continha trechos de escutas captadas pela Polícia Federal sobre a Operação Tamburutaca, revelando um esquema de corrupção em uma delegacia do Ministério do Trabalho na cidade. Após a publicação da matéria, o procurador da República Álvaro Stipp pediu, sem sucesso, que o repórter revelasse sua fonte. Na sequência, solicitou a abertura de um inquérito para chegar à identidade do informante e o indiciamento do jornalista por quebra de sigilo telefônico. Já em 2014, o Ministério Público Federal também solicitou a quebra do sigilo telefônico de Allan e da redação do jornal. O STF tornou definitivos o arquivamento do inquérito e a anulação do indiciamento por quebra de sigilo de comunicação telefônica. Não cabe recurso.

São Paulo (SP) I - O processo movido pelo Templo Planeta do Senhor, grupo cristão, contra a produtora Porta dos Fundos e o canal de streaming Netflix, foi arquivado. Uma ação civil pública cobrava R$ 1 bilhão de indenização da produtora de humor por conta do especial “Se beber, não ceie”, divulgado no final de 2018. O templo errou o nome do programa que queria processar. O programa (o nome correto é “A Primeira Tentação de Cristo”, de 2019) com Fábio Porchat no papel principal, retrata “Jesus Cristo homossexual, que faz uso de chás alucinógenos e que, ainda, tem dúvida quanto ao seu dever como filho de Deus”, fato que incomodou o grupo cristão. O Porta dos Fundos, no entanto, não está livre ainda da perseguição religiosa. A juíza só encerrou o caso por considerar que segue em andamento outra ação movida por outro grupo católico. 

São Paulo (SP) II - A ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF), com sede na França, lançou a campanha “A verdade nua” pela defesa do direito à informação confiável no Brasil durante a pandemia de Covid-19. Com a parceria da agência francesa BETC Paris, a mídia está disponível em francês, inglês, espanhol e português. Traz uma fotomontagem do presidente da República sem roupa, coberto apenas por uma placa que informa o número de mortes causadas pela Covid-19 e o número de casos confirmados da doença no país. O objetivo é ressaltar a importância do jornalismo na informação sobre a crise sanitária. A ONG contabiliza 580 ataques contra a mídia brasileira e seus profissionais em 2020. Segundo a RSF, a hostilidade contra a imprensa reflete como o presidente, sua família e apoiadores tentam “desacreditar a imprensa e silenciar jornalistas críticos e independentes, considerados inimigos do Estado”.

Rio de Janeiro (RJ) – A juíza Maria Tereza Donatti, do 4° Juizado Especial Criminal, encerrou inquérito contra os apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos, do Jornal Nacional, da Rede Globo. Os jornalistas eram investigados por crime de desobediência a uma decisão judicial relacionada a publicações que envolvem o caso das “rachadinhas” no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, na Assembleia Legislativa do RJ. Em 2020, a Globo havia sido proibida judicialmente de publicar informações sigilosas sobre o caso que envolve o atual senador Flávio Bolsonaro (Republicanos), e seu ex-assessor Fabrício Queiroz. Na decisão, a magistrada destacou a necessidade de “restaurar a normalidade e resguardar o livre exercício da imprensa”. A juíza também criticou a conduta do delegado responsável pelo inquérito, Pablo Dacosta Sartori. Segundo ela, mesmo que os apresentadores tivessem cometido crime de desobediência, não cabia à Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Informática apurar o caso. 

São Paulo (SP) III – A revista CartaCapital e o jornalista e advogado Brenno Tardelli devem indenizar a apresentadora Luciana Gimenez em R$ 30 mil, devido a um artigo que a associava ao fascismo. A sentença do juiz Fernando José Cúnico, da 12ª Vara do Foro Central Cível, alega que o conteúdo extrapolou os limites da liberdade de expressão. O texto “Calling Jagger to fight fascism”, assinado por Tardelli, foi publicado em maio de 2019 e sugeria que o cantor britânico Mick Jagger interviesse na educação de seu filho com Luciana, pois ela estaria defendendo medidas do governo federal “fascista”. A apresentadora considerou que a matéria violava sua honra e acionou a Justiça. Ainda cabe recurso.

São Paulo (SP) IV - O site Jornal da Cidade Online foi condenado pela juíza Luciana Bassi de Melo, da 5ª Vara Cível de SP, a conceder direito de resposta à rede Band por uma publicação em que acusava a rede de emissoras de ter sido “comprada pelo partido comunista chinês”. A magistrada reconheceu que a publicação extrapolou os limites legais da liberdade de manifestação e de imprensa. A emissora ajuizou a ação alegando que a publicação continha conteúdo inverídico e desabonador em seu prejuízo, a ensejar a concessão do direito de resposta. Conforme a sentença, o site deve conceder direito de resposta à Band, na mesma publicação da matéria objeto da ação, no início ou no final da gravação. 

Brasília (DF) I – A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e diversas outras entidades representativas de profissionais e empresas de comunicação protestaram contra a mudança de local do Comitê de Imprensa da Câmara dos Deputado. Localizado ao lado do plenário de votações da Casa desde a década de 60, com 54 mesas de trabalho e cabines para gravações de áudio, o espaço tinha 288 metros quadrados, facilitando o trabalho dos jornalistas e o acesso aos parlamentares. Inicialmente, a intenção da presidência da Casa era transferir os comunicadores credenciados na Casa para um espaço no subsolo do prédio. Depois, em conversas com os profissionais, encontrou um meio termo, com um novo espaço, mesmo assim longe do plenário e bem menor que o atual, sem as cabines que são usadas pelas emissoras de rádio e TVs para gravações e entrevistas.

Cuiabá (MT) - O jornalista Alexandre Aprá, diretor do site independente Isso É Notícia, criado em 2013 para produzir reportagens investigativas no MT, desde 2019 busca conhecer, via Lei de Acesso à Informação (LAI), quais os gastos de todos os órgãos públicos do Estado com publicidade e propaganda. A Secretaria de Comunicação do Estado se recusou a mostrar em quais veículos de comunicação são aplicados os R$ 70 milhões por ano. O repórter impetrou um mandado de segurança contra a decisão. O Tribunal de Justiça do MT já formou maioria de desembargadores contra o fornecimento da informação pública, inclusive com parecer favorável do Ministério Público Estadual. Os magistrados concordaram com a manifestação da Procuradoria Geral do Estado de que o governo não sabe em detalhes para onde vai a verba para publicidade, papel que cabe às agências contratadas. Pedido de vistas do desembargador Luiz Carlos da Costa adiou a votação para o início de março. Aprá já adiantou que deve recorrer ao STF. 

Brasília (DF) II – O site Brasil 247 e o professor de ciência política da UnB (Universidade de Brasília) Luis Felipe Miguel se livraram de indenizar o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub. Em 16 de janeiro de 2020, um texto do professor foi publicado no site em que ele chamou Weintraub de “desqualificado para o cargo”, citando erros gramaticais cometidos pelo ex-ministro. Weintraub, então, ajuizou a ação e pediu a retirada do texto do ar. Em primeiro grau, a ação foi julgada improcedente. Ele recorreu ao TJ-SP, mas, por unanimidade, a sentença foi mantida. 

Rio Branco (AC) - A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e o Sindicato dos Jornalistas do AC (Sinjac) manifestaram repúdio contra a demissão do jornalista João Renato Jácome de Andrade, que ocupava a Chefia de Gabinete da Secretaria de Meio Ambiente da cidade, publicada na edição do Diário Oficial do Acre de 26 de fevereiro. O motivo foi o jornalista ter perguntado ao político, durante coletiva, qual a avaliação dele sobre a anulação de quebra de sigilo fiscal de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), sobre o caso das ‘rachadinhas’, investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. O presidente não respondeu e imediatamente encerrou a entrevista, se retirando do local. 

Pelo mundo

Cuba - O Instituto Cubano por la Libertad de Expresión y Prensa (ICLEP) denuncia 38 violações contra a liberdade de imprensa no país em janeiro de 2021, um aumento de 124% em comparação com o mesmo mês de 2020. Em parte, a disparada dos casos pode ser atribuída à repressão de uma manifestação em 27 de janeiro, mas jornalistas e organizações sociais acreditam que os ataques à imprensa são parte de uma escalada mais ampla de agressões e devem continuar ao longo do ano. Em 27 de janeiro, jornalistas, ativistas e artistas se concentraram diante do Ministério da Cultura, após uma atividade em homenagem ao 168 aniversário do herói da independência José Martí. Os manifestantes buscavam dialogar com o ministro da Cultura, Alpidio Alonso, e protestar contra as detenções de membros do grupo, que tinham acontecido ao longo do dia. Alonso deu um tapa no celular do jornalista independente Mauricio Mendoza, que gravava a concentração. Em seguida, integrantes do ministério e policiais agrediram fisicamente e detiveram jornalistas e artistas que estavam no local, afirmou o ICLEP. Ao menos cinco jornalistas foram detidos nesse incidente, segundo a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP).

Haiti - A polícia disparou gás lacrimogêneo contra centenas de manifestantes que protestavam contra o presidente Jovenel Moise em Porto Príncipe em 10 de fevereiro e atacaram jornalistas que cobriam a manifestação nos últimos confrontos da crise política que sacode o país. Em 8 de fevereiro, na área de Champs-des-Mars, atacantes não identificados dispararam contra os jornalistas Destiné Alvarez e Jeanril Méus enquanto cobriam protestos. 

Egito – O jornalista Mahmoud Hussein, da rede Al-Jazeera, foi libertado em 4 de fevereiro após mais de quatro anos de prisão, sob a acusação de "divulgar informações falsas". Ele estava em prisão provisória desde dezembro de 2016. A Al-Jazeera denunciou em várias ocasiões a detenção de Hussein sem acusação formal, processo ou condenação. A emissora afirmou que ele sofria "física e mentalmente por esta detenção arbitrária".

Colômbia – A Fundação para a Liberdade de Imprensa (FLIP) revela que os casos de agressão contra jornalistas voltaram a ser um problema grave no país, que hoje é o terceiro mais perigoso para a imprensa nas Américas, atrás somente do México e de Honduras. Desde a assinatura do acordo de paz com a ex-guerrilha das Farc, em 2016, as ameaças, os homicídios, os deslocamentos e o exílio forçado se intensificaram entre os profissionais de imprensa do país "de forma significativa", com um total de 1.013 agressões e oito assassinatos. Somente em 2020, houve dois assassinatos de jornalistas na Colômbia. As vítimas foram Abelardo Liz e Felipe Guevara. As principais violações à liberdade de imprensa foram ameaças (152), obstrução ao trabalho jornalístico (44), agressões físicas (30) e estigmatização (19).

França - A ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) se juntou a uma coalizão de entidades de liberdade de imprensa, liberdades civis e direitos humanos internacionais para solicitar ao Departamento de Justiça dos EUA que não recorra da decisão que rejeitou a extradição de Julian Assange e retire as acusações contra o fundador do Wikileaks. No abaixo-assinado enviado em 8 de fevereiro, as organizações se mostram preocupadas com a repercussão que os processos em andamento contra Assange pode gerar. O texto afirma que as organizações discordam das acusações, mas acima disso, acreditam que os processos representam “grave ameaça à liberdade de imprensa nos EUA e no exterior”. Assinam a nota Artigo19, Associação Mundial de Jornais (Wan-Ifra), Centro Europeu para a Liberdade de Imprensa e dos Meios de Comunicação (ECPMF), Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), Federação Europeia de Jornalistas (EFJ), Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH), Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), Global Forum for Media Development (GFMD), International Freedom of Expression Exchange (IFEX), Index on Censorship, International Media Support (IMS), International Press Institute (IPI), Media Foundation for West Africa (MFWA), PEN America, PEN International e Repórteres sem Fronteiras (RSF). 

África do Sul - A Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) e a Federação de Jornalistas Africanos, em parceria com a Unesco, União Africana, ONGs e organizações patronais, lançaram uma nova plataforma para divulgar alertas e denúncias de ataque a jornalistas, violação do direito de informar, assédio digital e todo tipo de violação de direitos. A plataforma tem o objetivo de promover a segurança de jornalistas na África e acabar com a impunidade de crimes cometidos contra jornalistas. Desde 1990, 467 jornalistas foram assassinados no continente e até 31 de dezembro de 2020, 62 permaneciam presos, de acordo com a FIJ.

Peru - Mais de 70 jornalistas se manifestaram contra a criminalização judicial da liberdade de informação que existe no Peru e contra as correntes que apontam a imprensa como 'inimiga do povo'. Entre os repetidos ataques contra a imprensa, denúncias legais, difamações baseadas em informações falsas e teorias de conspiração se tornaram as formas mais comuns de ataque. Alguns dos casos citados como exemplo são os dos jornalistas Paola Ugaz, Pedro Salinas e Daniel Yovera, que realizaram investigações sobre o grupo católico Sodalicium.

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A Associação Riograndense de Imprensa (www.ari.org.br) disponibiliza o correio eletrônico imprensalivre@ari.org.br aos profissionais e estudantes da comunicação social para as denúncias envolvendo atentados ao livre exercício da profissão de jornalista.

O programa Conversa de Jornalista, transmitido aos sábados pela Rádio da Universidade AM 1080 Mhz, de Porto Alegre (RS), apresenta a resenha das ocorrências nacionais e internacionais sobre liberdade de imprensa e expressão.

Fontes: ARI (www.ari.org.br), ABI (www.abi.org.br), Fenaj (www.fenaj.org.br), ANJ (www.anj.org.br), Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br), Abert (www.abert.org.br), Abraji (www.abraji.org.br), Portal Imprensa (www.portalimprensa.com.br), Rede em Defesa da Liberdade de Imprensa (www.liberdadedeimprensa.org.br), Portal Coletiva (www.coletiva.net), Consultor Jurídico (www.conjur.com.br), Sociedade Interamericana de Imprensa (Miami), Federação Internacional deJornalistas (www.ifj.org) (Bruxelas), Sindicato dos Jornalistas de Portugal (www.jornalistas.eu)(Lisboa), ONG Repórteres Sem Fronteiras (www.rsf.org) (Paris), Portal Comunique-se (portal.comunique-se.com.br), Comitê de Proteção aos Jornalistas (Nova Iorque), Centro Knight para o Jornalismo nas Américas (knightcenter.utexas.edu), ONG Campanha Emblema de Imprensa (PEC), Freedom House (www.freedomhouse.org), Associação Mundial de Jornais (www.wan-ifra.org), Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), da Organização dos Estados Americanos (OEA) (http://www.oas.org/pt/cidh/), Fórum Mundial dos Editores e outras instituições e entidades de defesa do livre exercício da profissão de jornalista.

Pesquisa e edição: Vilson Antonio Romero (RS)


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