sexta-feira, 1 de março de 2019

BOLETIM 2 ANO XIV

A LIBERDADE DE IMPRENSA NO BRASIL E NO MUNDO

Destaques: ONGs saúdam revogação de decreto sobre sigilo oficial. Diversas decisões judiciais envolvem comunicadores. Governo da Venezuela reprime equipe de reportagem. Mais uma morte de profissional no México.

Notas do Brasil
São Paulo (SP) – As ONGs Artigo 19, Conectas Direitos Humanos e Transparência Brasil, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e o Instituto de Governo Aberto saudaram a revogação do Decreto federal 9.690/2019, que alterava a aplicação da Lei de Acesso a Informações Públicas (Lei 12.527/2011) no governo federal, ampliando o número de pessoas autorizadas a colocar documentos sob os mais altos graus de sigilo (ultrassecreto e secreto). A pressão de organizações em repúdio ao retrocesso na transparência no governo federal foi fundamental para a revogação. A Câmara dos Deputados aprovou um projeto para derrubar o decreto em 19 de fevereiro, votação referendada pelo Senado Federal. A função de classificar informações como ultrassecretas volta a ser apenas do presidente, do vice-presidente, ministros de Estado, comandantes das Forças Armadas e chefes de missões diplomáticas e consulares. Além destes, também podem chancelar o sigilo em documentos oficiais os titulares de autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista. As organizações destacaram que mudanças na Lei de Acesso a Informações ou em sua aplicação devem ser amplamente discutidas com a sociedade, ao contrário do que ocorreu com o decreto agora invalidado.

Brasília (DF) I - A juíza Grace Maia, da 9ª Vara Cível, indeferiu o pedido de tutela antecipada feito pelos advogados do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, contra o jornal Folha de S. Paulo. A solicitação era para que o jornal retirasse de suas páginas na internet reportagens ligando o político ao escândalo de candidatas-laranjas do PSL em MG durante a última eleição. A decisão ainda permite recurso. O político está processando a Folha e pede indenização de R$ 100 mil pelas matérias. A juíza, ao sentenciar, destaca que "a liberdade de imprensa é princípio constitucionalmente protegido e a divulgação de informações traduz-se em verdadeiro interesse público. Não obstante, deve-se primar pela autenticidade, pela lisura, tendo em vista o potencial de lesão a honra e imagem dos cidadãos, além da formação de opinião pública. Assim, no caso dos autos não se pode, neste juízo de cognição sumária, verificar, de plano, os alegados abusos cometidos, por se tratar de matéria cujo exame exige a prévia formação do contraditório. Apenas com a dilação probatória e o decurso do devido processo legal ter-se-á a necessária segurança para atestar eventual abuso no direito de informar, passível de reparação".

Brasília (DF) II - O Superior Tribunal de Justiça (STJ) condenou o repórter Rubens Valente, do jornal Folha de S.Paulo, a pagar uma indenização por danos morais ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes por menções a ele no livro “Operação Banqueiro”, publicado em 2014. O livro traz uma reportagem sobre a operação que investigou o banqueiro Daniel Dantas, preso em 2008 sob acusações de corrupção e suborno e solto poucos dias depois por decisão de Mendes, então presidente do STF. Logo após a publicação do livro, o ministro entrou com um processo contra Valente, e a editora Geração Editorial alegando que o livro foi elaborado com “manifesto intuito difamatório e atentatório” contra sua dignidade. Mendes pediu indenização de R$ 200 mil e que a sentença a ser proferida e a petição inicial fossem publicadas nas futuras edições do livro e em revista de grande circulação.

Brasília (DF) III - O senador Renan Calheiros (MDB) usou sua conta no Twitter para ofender a jornalista Dora Kramer, da revista Veja, incomodado com um texto escrito pela profissional sobre a eleição para a presidência do Senado. Na retaliação eletrônica, o político acusa a jornalista de assediá-lo e faz referência explícita à sua vida amorosa. Dora escreveu o artigo “Ocaso dos caciques” no qual declara que Calheiros foi “vítima da própria arrogância, que o impediu de perceber a mudança dos rumos dos ventos” no processo eleitoral da Casa legislativa. A reação do parlamentar foi ir às redes sociais para ofendê-la. O texto foi posteriormente retirado do ar, mas a polêmica já havia sido criada com muitas reações criticando a falta de limite da manifestação. Em suas redes sociais, Dora agradeceu as manifestações de solidariedade, mas afirmou que não responderia aos insultos.

Porto Alegre (RS) - O jornalista Alexandre Garcia não terá que indenizar o ex-ministro da Justiça Tarso Genro por dizer que ele devolveu a Cuba os dois boxeadores que fugiram da delegação nos jogos Pan-Americanos. Alexandre Garcia disse que o ministro teria "pegado" e "botado" os atletas no avião. O comentário foi feito durante um programa na rádio CBN, em 2007, e se referia ao episódio envolvendo dois cubanos que fugiram da delegação durante os jogos que aconteciam no Rio de Janeiro. Os boxeadores foram encontrados pela polícia brasileira e acabaram deportados, o que gerou diversas críticas.

Brasília (DF) IV - O Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional (CCS) vai realizar um seminário sobre liberdade de expressão e violência contra jornalistas, em 8 de abril, com a participação de representantes de várias instituições governamentais e civis. Serão convidados o ministro da Justiça, Sergio Moro, representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e da Comissão do Congresso que está analisando a atualização do Código Penal Brasileiro, além de entidades de classe do setor de comunicação, como Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Federação dos Radialistas (Fitert) e outras. A conselheira do CCS, Maria José Braga, ressaltou a importância de se discutir a questão do crescimento da violência contra jornalistas.

Pelo mundo
EUA - A ONG Freedom House divulgou seu relatório Liberdade no Mundo, onde registra a diminuição dos indicadores de liberdades sociais, inclusive a de imprensa, e dos direitos civis no mundo pelo 13º ano consecutivo. O levantamento constatou que a liberdade de imprensa diminuiu em quatro das seis regiões do mundo e que o número de países em que os índices de liberdades declinaram cresceu mais do que o de países em que foram registradas evoluções. Repressão, agressões, ameaças, detenções e assassinatos aumentaram significativamente em diversos países, como já demonstraram outros relatórios de organizações sociais. Na era digital, as redes sociais tornaram-se uma arma a mais na tentativa de silenciar ou intimidar a imprensa investigativa. O relatório destaca ainda a multiplicação de movimentos repressivos na América Latina, como na Venezuela e na Nicarágua, e processos eleitorais marcados pela violência política, como no Brasil e no México.

Venezuela - O jornalista Jorge Ramos, da Univisión, e a equipe que o acompanhava foram detidos durante a gravação de uma entrevista com o presidente Nicolás Maduro, em Caracas, em 25 de fevereiro. Eles ficaram mais de duas horas retidos em uma sala, na sede da presidência, antes de serem libertados e retornarem ao hotel. Ramos e sua equipe, que já deixaram o país, relatam que os problemas começaram quando ele mostrou para Maduro um vídeo no qual um grupo de jovens apareciam comendo restos de comida retirados de um caminhão de lixo. “Ele não gostou as coisas que estávamos perguntando sobre a falta de democracia na Venezuela, as torturas, os prisioneiros políticos sobre a crise humanitária que viviam e ele se levantou no meio da entrevista, depois que lhe mostramos um vídeo em que dois jovens comiam de um caminhão de lixo. Imediatamente depois, um de seus ministros, Jorge Rodríguez Pino, disse que a entrevista não estava autorizada e confiscou todos nossos equipamentos”, relata Ramos.

México - O radialista Jesús Eugenio Ramos Rodríguez, apresentador do programa Nuestra Región Hoy, na rádio Oye 99.9 FM, foi morto no estado de Tabasco, em 9 de fevereiro. Dois jovens atiraram pelo menos oito vezes enquanto Rodriguez tomava café no restaurante de um hotel em Emiliano Zapata. No momento em que foi assassinado, o profissional estava acompanhado pelo ex-presidente municipal e outros.
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A Associação Riograndense de Imprensa (www.ari.org.br) disponibiliza o correio eletrônico imprensalivre@ari.org.br aos profissionais e estudantes da comunicação social para as denúncias envolvendo atentados ao livre exercício da profissão de jornalista.

O programa Conversa de Jornalista, transmitido aos sábados pela Rádio da Universidade AM 1080 Mhz, de Porto Alegre (RS), apresenta a resenha das ocorrências nacionais e internacionais sobre liberdade de imprensa e expressão.

Fontes: ARI (www.ari.org.br), ABI (www.abi.org.br), Fenaj (www.fenaj.org.br), ANJ (www.anj.org.br), Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br), Abert (www.abert.org.br), Abraji (www.abraji.org.br), Portal Imprensa (www.portalimprensa.com.br), Rede em Defesa da Liberdade de Imprensa (www.liberdadedeimprensa.org.br), Portal Coletiva (www.coletiva.net), Consultor Jurídico (www.conjur.com.br), Sociedade Interamericana de Imprensa (Miami), Federação Internacional deJornalistas (www.ifj.org) (Bruxelas), Sindicato dos Jornalistas de Portugal (www.jornalistas.eu)(Lisboa), ONG Repórteres Sem Fronteiras (www.rsf.org) (Paris), Portal Comunique-se (portal.comunique-se.com.br), Comitê de Proteção aos Jornalistas (Nova Iorque), Centro Knight para o Jornalismo nas Américas (knightcenter.utexas.edu), ONG Campanha Emblema de Imprensa (PEC), Freedom House (www.freedomhouse.org), Associação Mundial de Jornais (www.wan-ifra.org), Fórum Mundial dos Editores e outras instituições e entidades de defesa do livre exercício da profissão de jornalista.

Pesquisa e edição de Vilson Antonio Romero

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