segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

BOLETIM 01 ANO XV

A LIBERDADE DE IMPRENSA NO BRASIL E NO MUNDO

Destaques: Fenaj denuncia aumento de ataques contra veículos de comunicação e jornalistas em 2019. PM paulista ataca profissionais durante manifestações. Correspondente francês sofre ataques na Grécia. Radialista camaronês pede relaxamento de prisão para tratamento médico.


Notas do Brasil
São Paulo (SP) – O fotógrafo Rodrigo Zaim Pereira foi preso ao registrar imagens da manifestação contra o aumento da tarifa de ônibus e trens, ocorrida em 7 de janeiro. O ato terminou na estação de metrô Trianon-Masp com cerca de 30 pessoas presas para averiguação. De acordo com Pereira, o ato já estava disperso quando a chuva começou e fez com que os manifestantes se abrigassem na estação de metrô. Com o acúmulo de manifestantes, a polícia entrou na estação fazendo formação de escudo e avançando em direção à catraca para impedir que chegassem à plataforma. A ação policial provocou tumulto e, com isso, o Batalhão de Ações Especiais da Polícia (Baep) entrou por outra porta da estação e pediu aos manifestantes para se sentarem. Por estar junto aos manifestantes, o fotojornalista cumpriu a ordem e, após verificação dos policiais, foi levado para a delegacia juntamente com os demais participantes do protesto. Dois dias após, a PM impediu o trabalho de jornalistas quando estes registravam agressões aos manifestantes do Movimento Passe-Livre (MPL), com agressões físicas, detenções e revistas, corporal e de suas mochilas, em busca de “ilícitos”. Com a desculpa da necessidade de revistá-los, a PM impediu, no início da manifestação, na Praça da Sé, o trabalho do repórter Arthur Stabile, da Ponte Jornalismo, e do fotógrafo Lucas Martins, dos Jornalistas Livres. Na repressão ao ato, o repórter fotográfico Daniel Teixeira, do jornal O Estado de S.Paulo, levou um golpe de cassetete nas costelas, mesmo carregando sua câmera nas mãos e tendo se identificado como jornalista.

Brasília (DF) I – A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) denuncia em seu relatório anual que os ataques contra veículos de comunicação e jornalistas no Brasil aumentaram 54% em 2019, em relação ao ano anterior. De acordo com a entidade, foram registradas 208 ocorrências em 2019 – no ano anterior, foram 135. O relatório deste ano agrupou as ocorrências em dez categorias: assassinatos; agressões verbais; ameaças e intimidações; agressões físicas; censuras; cerceamento à liberdade de imprensa por meios judiciais; impedimentos ao exercício profissional; injúria racial; violência contra organização sindical; e descredibilização da imprensa. Um ponto positivo destacado pelo relatório foi a diminuição das agressões físicas – tipo de violência mais comum até 2018. Foram 15 casos em 2019, contra 20 profissionais. Em 2018 foram 33 ocorrências. Por outro lado, o número de assassinatos cresceu. Os jornalistas Robson Giorno e Romário da Silva Barros, que trabalhavam em Maricá (RJ), foram mortos. No ano anterior, havia ocorrido um assassinato e, em 2017, nenhum. Da mesma forma, houve um aumento de injúrias raciais contra jornalistas. Em 2019, foram duas, contra nenhuma em 2018.

Rio de Janeiro (RJ) – O jornalista norte-americano Glenn Greenwald, diretor do portal The Intercept Brasil (TIB), foi denunciado em 21 de janeiro pelo Ministério Público Federal (MPF) por envolvimento com os “hackers” que invadiram telefones celulares de autoridades públicas. Segundo a acusação, ele teria orientado os criminosos a apagar parte do conteúdo vazado para a publicação de reportagens. Greenwald não foi investigado ou indiciado, mas segundo o MPF, ficou comprovado que ele ajudou o grupo na invasão de celulares. O TIB usou o material para denunciar irregularidades na Operação Lava-Jato. A Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) condenaram a decisão do MPF. Os ministros do STF Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello e diversas personalidades também demonstraram inconformismo com a medida. O episódio repercutiu negativamente na imprensa internacional.

Porto Alegre (RS) - O jornalista e blogueiro Políbio Braga se livrou de indenizar o ex-governador e ex-ministro da Justiça Tarso Genro, por decisão da Turma Recursal Criminal, dos Juizados Especiais Criminais do RS (JECrim), que manteve sentença que rejeitou queixa-crime movida pelo político. Tarso não gostou das críticas disparadas pelo Blog do Políbio, onde o jornalista lembrou que ele e o ex-governador Sérgio Cabral eram “aliados e amigos”. E que Tarso, com a política de estabelecer “territórios da paz”, foi o responsável pela “desordem” na segurança pública do estado do RJ, à época em que atuava como ministro da Justiça do Governo Lula (março de 2007 a fevereiro de 2010). E mais: teria sugerido, subliminarmente, uma “aliança com corruptos”. Na queixa-crime encaminhada ao 1º Juizado Especial Criminal do Foro Central de Porto Alegre, o ex-ministro imputou ao blogueiro os crimes de difamação e injúria – constantes nos artigos 139 e 140 do Código Penal. A decisão recursal decorreu do fato, no entendimento da Turma, que a Constituição Federal dá ao jornalista o direito de criticar qualquer pessoa, mesmo que em tom áspero, contundente, sarcástico, irônico ou irreverente, especialmente se for político ou autoridade do Estado. O relator da apelação-crime, juiz Edson Jorge Cechet, lembrou que o blog publica matérias jornalísticas de cunho político e que todo político é alvo de constantes críticas. No caso concreto, ele não viu nenhum excesso que justificasse a deflagração de uma ação penal, mas apenas direito à plena liberdade de expressão do pensamento.

Brasília (DF) II – A rede Netflix permanece autorizada a seguir exibindo o Especial de Natal Porta dos Fundos: A Primeira Tentação de Cristo. A decisão liminar do início de janeiro foi do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli. A exibição do programa havia sido suspensa em 8 de janeiro pelo desembargador Benedicto Abicair, da 6ª Câmara Cível, atendendo ação movida pela Associação Centro Dom Bosco de Fé e Cultura. O especial da produtora Porta dos Fundos satiriza diversos símbolos e personagens cultuados pela religião católica, como Deus, Virgem Maria, Jesus Cristo, entre outros.

Brasília (DF) III - O presidente da República afirmou em 6 de janeiro que os jornalistas são uma “espécie em extinção”. Na tradicional manifestação na saída do Palácio da Alvorada, um jornalista indagou ao político se ele havia conversado com os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sobre o cronograma de votação das reformas administrativa e tributária. “Sempre converso com eles, sempre converso com eles”, respondeu o presidente. O repórter, em seguida, indagou: “qual reforma primeiro?”. O presidente, então, respondeu: “Mas o que acontece? Eu não vou provocar uma crise porque olha só: para vocês da imprensa aí. Essa frase não é minha. Eu quero que vocês mudem. Quem não lê jornal não está informado, e quem lê está desinformado. Tem que mudar isso. Vocês são uma espécie em extinção. Acho que vou botar os jornalistas do Brasil vinculados ao Ibama. Vocês são uma raça em extinção”, declarou o presidente. Em nota, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) considera a declaração “estapafúrdia” e afirma que, enquanto a informação for uma “necessidade vital nas sociedades modernas”, o jornalismo continuará existindo. Diversas outras entidades também repudiaram a manifestação.


Pelo mundo
Grécia - O jornalista alemão Thomas Jacobi, da rádio Deutsche Welle e correspondente francês do diário La Croix, foi atacado em 21 de janeiro por ativistas de extrema direita enquanto cobria uma manifestação anti-imigração na Praça Syntagma, no centro de Atenas. Ele recebeu socos no rosto por vários minutos, antes de conseguir escapar, com a ajuda de jornalistas que também estavam no local. Organizações de defesa da profissão, como a ONG Repórteres Sem Fronteira (RSF), a Associação de Imprensa Estrangeira da Grécia (FPA) e a Associação de Editores dos jornais Athens Daily (ESIEA) condenaram o ataque.

Indonésia – O jornalista americano Philip Jacobson, editor do site de ciências ambientais Mongabay, foi preso em 21 de janeiro por funcionários do setor de imigração que invadiram sua casa e o levaram para um centro de detenção em Palangkaraya. O jornalista divulgava a degradação ambiental e as más ações corporativas na Indonésia. Ele é acusado de violar a lei de imigração, por estar trabalhando como jornalista apesar de possuir um visto de negócios. Se for condenado, poderá ficar até cinco anos preso. Jacobson já tinha sido detido, em 17 de dezembro de 2019, mas foi liberado após interrogatório de quatro horas, sob a condição de permanecer em Palangkaraya enquanto o status de seu visto era averiguado. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) pede a libertação imediata de Jacobson e o fim do processo contra ele.

Camarões - O jornalista Amadou Vamoulké, ex-diretor da CRTV Rádio, preso provisoriamente há três anos e meio, está tentando permissão judicial para realizar um tratamento médico. Dois neurologistas atestaram que, aos 69 anos, Vamoulké corre o risco de perder os movimentos dos membros inferiores. O profissional foi detido sob a acusação de desvio de fundos públicos do Ministério das Finanças. Sua próxima audiência ocorre em 25 de fevereiro. A ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) também vem se mobilizando em favor de Vamoulké, fazendo campanhas de conscientização do caso e atuando junto à justiça camaronesa e ao governo do país. Nove parlamentares franceses assinaram há um ano um manifesto endereçado ao presidente Emmanuel Macron declarando que o jornalista é inocente e foi preso injustamente. Segundo a defesa, as provas apresentadas se resumem fotocópias sem nenhum tipo de assinatura ou certificação, que foram rejeitadas pelo tribunal.

Fontes: http://www.abi.org.br, https://www.abraji.org.br/, http://fenaj.org.br/https://www.conjur.com.br/areas/imprensa, http://www.portalimprensa.com.br/, http://artigo19.org/, https://portal.comunique-se.com.br/; https://www.coletiva.net/, Sociedade Interamericana de Imprensa (https://pt.sipiapa.org/contenidos/home.html), Federação Internacional de Jornalistas (www.ifj.org) (Bruxelas), Sindicato dos Jornalistas de Portugal (www.jornalistas.eu)(Lisboa), ONG Repórteres Sem Fronteiras (www.rsf.org) (Paris), Portal Comunique-se (portal.comunique-se.com.br), Comitê de Proteção aos Jornalistas (New York) (https://cpj.org/pt/), Centro Knight para o Jornalismo nas Américas(https://knightcenter.utexas.edu/pt-br/), ONG Campanha Emblema de Imprensa (PEC), Freedom House (www.freedomhouse.org), Associação Mundial de Jornais (www.wan-ifra.org), Fórum Mundial dos Editores e outras instituições e entidades de defesa do livre exercício da profissão de jornalista.

Pesquisa e edição Vilson Antonio Romero (RS)
e-mail: vilsonromero@yahoo.com.br

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