quinta-feira, 29 de novembro de 2018

BOLETIM 10 ANO XIII

A LIBERDADE DE IMPRENSA NO BRASIL E NO MUNDO

Destaques: Justiça proíbe TV Globo de noticiar inquérito sobre morte da vereadora carioca. CIDH demonstra preocupação com ataques à imprensa brasileira. CIA conclui que príncipe saudita ordenou assassinato de Khashoggi. Nicarágua registra mais de 400 violações à liberdade de imprensa.

Notas do Brasil
Rio de Janeiro (RJ) – A TV Globo e a GloboNews foram proibidas em 17 de novembro de noticiar detalhes do inquérito policial que investiga os assassinatos da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes, ocorridos em 14 de março. O juiz Gustavo Kalil, da 4ª. Vara Criminal do RJ, concedeu liminar a pedido da divisão de homicídios da Polícia Civil e do Ministério Público estadual. Na sentença, o juiz diz que “o vazamento do conteúdo dos autos é deveras prejudicial, pois expõe dados pessoais das testemunhas, assim como prejudica o bom andamento das investigações, obstaculizando e retardando a elucidação dos crimes hediondos em análise”. As emissoras devem recorrer da medida judicial. A Associação Brasileira de Imprensa repudiou a determinação, qualificando-a como um ato de censura prévia.

São Paulo (SP) I – A impunidade de homicídios contra jornalistas no Brasil têm sido cada vez mais frequente no interior do país, segundo o relatório da ONG Artigo 19 “O ciclo do silêncio: impunidade em homicídios de comunicadores”. “Principalmente onde estão mais expostos à discricionariedade dos poderes locais, como nas pequenas cidades e periferias brasileiras, as vozes [de jornalistas] têm sido interrompidas por crimes encomendados, por vezes bárbaros, e que expõem uma verdadeira ruptura democrática no país”, afirma o relatório. O Brasil ocupa o 10º lugar na lista de países em que assassinos de profissionais da imprensa têm mais probabilidade de ficarem livres, ranking organizado pelo Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ). Um dos motivos para a alta taxa de impunidade, segundo a Artigo 19, é a situação de vulnerabilidade que comunicadores brasileiros se encontram, principalmente aqueles em cidades de interior e veículos de pequeno porte.

São Paulo (SP) II - A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) manifestou em 12 de novembro “enorme preocupação” com as agressões físicas e as ameaças virtuais dirigidas contra a imprensa brasileira. A manifestação se baseou em informações entregues ao órgão pela Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), em audiência com o uruguaio Edison Lanza, relator especial para Liberdade de Expressão da CIDH. Lanza se mostrou alarmado com a impunidade das “dezenas de assassinatos de jornalistas ao longo dos últimos dez anos no Brasil. O índice de impunidade desses crimes gira em torno de 90% dos casos”. O relator é um dos membros da equipe da CIDH que realizou uma visita ao Brasil no início de novembro para monitorar a situação de direitos humanos em áreas como sistema prisional, direitos indígenas, questões de gênero, de habitação, entre outras.

São Paulo (SP) III - Com o fim da campanha eleitoral de 2018, o Projeto Comprova encerrou suas atividades de verificação de conteúdos duvidosos nas redes sociais e WhatsApp. Ao longo de 12 semanas, a coalizão coordenada pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) checou a veracidade das principais informações compartilhadas na internet. Para o coordenador da iniciativa, Sérgio Lüdtke, o Comprova colocou a desinformação em evidência. Os 24 veículos de comunicação que participaram do projeto checaram ao todo 146 histórias durante os três meses que a iniciativa durou. Desse total, mais de 90% se mostraram falsas, enganosas ou descontextualizadas e apenas 9 eram verdadeiras. O WhatsApp do Comprova recebeu mais de 67 mil mensagens com pedidos de checagem.

São Paulo (SP) IV - O jornalista Alberto Luchetti, ex-diretor da TV Globo, lançou campanha na internet em defesa do jornal Folha de S. Paulo. Intitulada #FolhaSim... pela liberdade de imprensa, a peça pode ser vista no site e nas redes sociais do canal de televisão AllTV. Para a campanha foi produzido um vídeo relembrando a importância da liberdade de imprensa para a democracia. Luchetti foi diretor do programa Domingão do Faustão, na TV Globo, mas também trabalhou na Band, Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo e na rádio Jovem Pan.

Brasília (DF) I - Empresas jornalísticas deverão contratar seguros de vida e de acidentes pessoais para repórteres, cinegrafistas e outros profissionais que atuem em condições de risco. É o que estabelece a atual redação do Projeto de Lei do Senado (PLS) 114/2014, aprovado no início do mês pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ). A proposta voltada a jornalistas segue para a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). O projeto foi apresentado pela senadora Ângela Portela (PDT-RR) e recebeu substitutivo do relator, senador Valdir Raupp (MDB-RO).

Bragança (PA) - O vereador Cesar Monteiro (PR) é suspeito de ter contratado um grupo para matar o radialista Jairo de Sousa. O comunicador foi assassinado na madrugada de 21 de junho. Monteiro se apresentou em 20 de novembro na Divisão de Homicídios em Belém, após ter tido sua prisão temporária decretada durante a Operação Pérola, deflagrada quatro dias antes. Até agora, a polícia prendeu oito pessoas; uma ainda está foragida.

Brasília (DF) II - Um veículo de comunicação não tem a obrigação de publicar direito de resposta, conforme o inciso V do artigo 5º da Constituição, a alguém que se sentiu prejudicado se os fatos narrados são verdadeiros e do conhecimento do público. Principalmente, se a reportagem contestada não extrapola os limites do Jornalismo crítico e informativo. Com base neste fundamento, a 6ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do RS reformou sentença que havia concedido direito de resposta à ex-presidente Dilma Rousseff por uma reportagem publicada pela revista semanal IstoÉ na edição n°. 2.432, de 15 de junho de 2016. A notícia, intitulada ‘‘Mordomia: carros oficiais a serviço da família de Dilma’’, a acusava de utilizar os carros oficiais colocados à sua disposição, após ter deixado o governo, com desvio de finalidade, para satisfazer interesses pessoais e de sua família. A reportagem atribuiu à ex-presidente condutas tipificadas pela legislação como crime e ato de improbidade administrativa.

Belo Horizonte (MG) - O juiz Carlos Loiola, da 35ª Vara Cível, mandou o jornalista Marcelo Auler retirar de seu blog duas notícias que narram o caso de policiais militares acusados de extorsão mediante sequestro, violação de domicílio e falsidade ideológica. A decisão não entra no mérito das notícias, mas diz que, caso esteja equivocada, o dano não é irreversível, já que as notícias poderão voltar ao blog. O juízo estipulou multa diária de R$ 10 mil chegando ao máximo de R$ 50 mil em caso de descumprimento.

Pelo mundo
Arábia Saudita – A CIA concluiu que o príncipe herdeiro saudita Mohamed bin Salman (MBS) ordenou o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi em 2 de outubro no consulado saudita em Istambul. Khashoggi, que vivia nos EUA e era colaborador habitual do Washington Post, foi ao consulado de Istambul para realizar trâmites relacionados ao seu futuro casamento com uma mulher turca e não saiu. A partir daí, Riad mudou várias vezes de versão. Primeiro afirmou que o jornalista havia deixado o consulado por seus próprios pés, mas, depois de três semanas de pressão pelas informações vindas da Turquia, acabou admitindo a morte. Inicialmente, as autoridades sauditas afirmaram que Khashoggi morreu em uma briga no prédio, ainda que depois tenham colocado a culpa em agentes que, supostamente, agiram por conta própria e sem planejamento. Existem 11 acusados e cinco deles podem ser condenados à morte.

EUA I – O jornalista Manuel Durán Ortega, do site Memphis Noticias, que foi detido e preso pela imigração dos EUA enquanto cobria um protesto sobre imigração pode agora enfrentar deportação após uma recusa do Conselho de Apelação de Imigração. Durán fugiu de El Salvador em 2006 devido a ameaças de morte. Em 3 de abril de 2018, ele foi preso enquanto cobria um protesto contra as políticas de imigração dos EUA. O jornalista foi acusado de conduta desordeira e obstrução de uma rodovia, mas as acusações depois foram retiradas e seu caso foi arquivado.

México - O jornalista Rodrigo Acuña, diretor do site Diario de Tepetzintla e colaborador do La Voz de Tantocuya, está em estado grave depois de ser baleado por desconhecidos na porta de sua casa na noite de 23 de novembro. Acuña faz cobertura policial em vários municípios de Veracruz, informou o El Sol de México. Quando foi atacado por dois indivíduos armados, o jornalista estava voltando para casa com seu filho de um ano, que saiu ileso. O ataque atingiu gravemente um dos pulmões do jornalista, que passou por uma cirurgia onde também um rim foi removido e os médicos reconstruíram o fígado.

Nicarágua - Houve 420 violações contra a liberdade de imprensa desde que os protestos começaram em abril deste ano, de acordo com um novo relatório da Fundação Violeta Barrios de Chamorro (FVBCH).  A ONG analisou o período de 1º de abril a 18 de outubro de 2018 e encontrou violações incluindo agressões, ataques, ameaças, difamação, censura, perseguição judicial, intimidação, assédio verbal, misoginia, morte e outros. Levando em conta todas as violações, havia 261 vítimas.

EUA II - Quando assassinatos de jornalistas não são levados à justiça em tribunais, o resultado é não apenas injustiça para os profissionais mortos e suas famílias, como também uma ameaça maior para os colegas que eles deixam para trás. Na América Latina e no Caribe, apenas 18% dos casos de jornalistas assassinados, ou 41 dos 226 casos condenados pela Unesco entre 2006 e 2017, foram reportados como resolvidos pelos Estados-Membros, segundo a organização internacional. Enquanto isso, a impunidade persiste em nove entre dez casos em todo o mundo, segundo a organização. A Unesco e aliados estão divulgando a campanha #TruthNeverDies (a verdade nunca morre, em inglês). Um microsite especial divulga as histórias de jornalistas que foram assassinados por causa de seu trabalho. A UNESCO também lançou o Observatory of Killed Journalists, um banco de dados online pesquisável com informações sobre o status judicial de casos de profissionais da mídia assassinados. O banco de dados contém cada assassinato que a Unesco registrou desde 1993 e a informação vem dos Estados onde o assassinato aconteceu.

Peru - Sete organizações jornalísticas formaram a aliança Voces del Sur para sistematizar o monitoramento da liberdade de expressão em seus países. Unidas não apenas por semelhanças geográficas e culturais, mas também pelo tipo de problemas que seus países enfrentam política, econômica e socialmente, se reuniram Fundamedios (Equador), Centro de Arquivos e Acesso à Informação Pública (CAinfo, do Uruguai), Fórum de Jornalismo Argentino (Fopea), Instituto de Imprensa e Sociedade (IPYS, do Peru), IPYS Venezuela, Comitê para a Liberdade de Expressão (C-Libre, de Honduras) e Associação Nacional de Imprensa da Bolívia. O monitoramento será feito com base em 12 indicadores. Os mais proeminentes são assassinato, sequestro, desaparecimento forçado, detenção arbitrária, tortura, processos judiciais (civis e criminais) e uso abusivo do poder do Estado. Eles também vão monitorar países cujo marco legal é contrário aos padrões internacionais de liberdade de expressão, colocando maior ênfase, devido a seus antecedentes, em Venezuela, Equador e Bolívia. Outras categorias a serem monitoradas serão as restrições na internet, como bloqueios eletrônicos, ameaças, hackers, etc. Transversalmente, haverá mais uma categoria, gênero, por meio da qual todos os casos serão avaliados.

EUA III - A Casa Branca devolveu em 19 de novembro a credencial do jornalista Jim Acosta, da rede CNN, encerrando uma batalha jurídica entre a emissora e a administração de Donald Trump. O repórter havia perdido a credencial após discutir com o presidente Donald Trump durante uma coletiva de imprensa no início do novembro. A justificativa do governo para a suspensão do acesso de Acosta à Casa Branca foi a de que o jornalista teria tocado de forma agressiva uma auxiliar que tentava tirar o microfone de sua mão e que agiu de forma desrespeitosa com os colegas ao não ceder a vez. Um juiz federal determinou que a credencial fosse restituída, após a CNN levar o caso à Justiça. A empresa alegou que o Estado cometeu abuso de poder e feriu os direitos à liberdade de expressão e de imprensa.

China – O fotógrafo Lu Guang foi preso em 3 de novembro por membros da guarda de segurança nacional em Xinjiang, região muçulmana do país. Conhecido por seu trabalho de denúncia contra crimes ambientais, Guang mora em Nova York, nos EUA, mas havia retornado a seu país natal para participar de alguns eventos. O território de Xianjing está sob severo controle governamental. As autoridades afirmam que o objetivo é barrar o crescimento do radicalismo entre grupos étnicos da comunidade muçulmana. Em dia 23 de outubro, Guang foi para Urumqi, capital da região na qual desapareceu, como convidado de um evento fotográfico. No início de novembro, não se comunicou mais com amigos e familiares. A esposa de Guang procurou informações com autoridades locais, mas só conseguiu receber a confirmação de que seu marido e o organizador do evento haviam sido detidos. Preocupada, ela postou uma carta no Twitter revelando a situação.
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A Associação Riograndense de Imprensa (www.ari.org.br) disponibiliza o correio eletrônico imprensalivre@ari.org.br aos profissionais e estudantes da comunicação social para as denúncias envolvendo atentados ao livre exercício da profissão de jornalista.
O programa Conversa de Jornalista, transmitido aos sábados pela Rádio da Universidade AM 1080 Mhz, de Porto Alegre (RS), apresenta a resenha das ocorrências nacionais e internacionais sobre liberdade de imprensa e expressão.
Fontes: ARI (www.ari.org.br), ABI (www.abi.org.br), Fenaj (www.fenaj.org.br), ANJ (www.anj.org.br), Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br), Abert (www.abert.org.br), Abraji (www.abraji.org.br), Portal Imprensa (www.portalimprensa.com.br), Rede em Defesa da Liberdade de Imprensa (www.liberdadedeimprensa.org.br), Portal Coletiva (www.coletiva.net), Consultor Jurídico (www.conjur.com.br), Sociedade Interamericana de Imprensa (Miami), Federação Internacional deJornalistas (www.ifj.org) (Bruxelas), Sindicato dos Jornalistas de Portugal (www.jornalistas.eu)(Lisboa), ONG Repórteres Sem Fronteiras (www.rsf.org) (Paris), Portal Comunique-se (portal.comunique-se.com.br), Comitê de Proteção aos Jornalistas (Nova Iorque), Centro Knight para o Jornalismo nas Américas (knightcenter.utexas.edu), ONG Campanha Emblema de Imprensa (PEC), Freedom House (www.freedomhouse.org), Associação Mundial de Jornais (www.wan-ifra.org), Fórum Mundial dos Editores e outras instituições e entidades de defesa do livre exercício da profissão de jornalista.
Pesquisa e edição de Vilson Antonio Romero

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