A LIBERDADE DE IMPRENSA NO BRASIL E NO MUNDO
Destaques: CDJor denuncia mais de 44 mil ataques à imprensa no primeiro turno das eleições. Jornal Plural se livra de censura judicial no PR. Record, revista Veja e Rede TV são condenadas a indenizações por danos morais. Mais um assassinato de jornalista no México. Ataque israelense vitima três profissionais no Líbano.NOTAS DO BRASIL
Brasília (DF) I – A Coalizão em Defesa do Jornalismo (CDJor) registrou mais de 44 mil ataques contra a imprensa no monitoramento das redes sociais X, Instagram e TikTok, durante o primeiro turno da campanha eleitoral. Em parceria com o Laboratório de Internet e Ciência de Dados (Labic), da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), mais de 450 contas de jornalistas, meios de comunicação e candidatos às prefeituras vêm sendo monitoradas desde 15 de agosto. Até 6 de outubro, os jornalistas mais atacados nas redes sociais foram Carlos Tramontina (que mediou o debate do Flow entre candidatos à prefeitura de São Paulo), Josias de Souza (Uol), Pedro Duran Meletti (CNN Brasil), Andréia Sadi (GloboNews), Vera Magalhães (O Globo/ CBN), Diego Sarza (Uol), André Trigueiro (GloboNews), Leonardo Sakamoto (Uol), José Roberto de Toledo (Uol) e Daniela Lima (GloboNews). Já os meios de comunicação que mais receberam menções ou comentários hostis foram GloboNews, Uol, Metrópoles, G1, CNN, O Globo, Folha de S.Paulo, Rede Globo, O Estado de S.Paulo e Veja. A hashtag mais utilizada no período foi #globolixo, seguida de outras ligadas ao mesmo grupo. A expressão aparece com frequência inclusive em posts direcionados a outros meios de comunicação, mostrando que se tornou um termo de hostilização ao jornalismo em geral.
Brasília (DF) II - A revista Veja não logrou êxito em agravo julgado pela Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) no processo movido pelo senador Romário (PL-RJ). O veículo pedia revisão do valor dos honorários advocatícios. O relator da ação, ministro João Otávio de Noronha, optou pela manutenção do recurso e dos honorários em R$ 15 mil. A ação teve início com a publicação da matéria, em 2015, intitulada “O mar não está para peixe”, onde Veja afirmava, incorretamente, que o senador tinha uma conta não declarada na Suíça com US$ 7,5 milhões. O veículo, posteriormente, desculpou-se pelo erro.
São Paulo (SP) I - O apresentador Sikêra Jr. e a RedeTV! ainda podem apresentar recurso da decisão da 5ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de SP (TJ-SP) que condenou ambos a indenizar em R$ 20 mil um motorista de Uber que foi chamado de estuprador, vagabundo e homicida durante o programa Alerta Nacional, em 2022. O programa mostrou que uma passageira se assustou ao ver o homem fechar os vidros do carro e aplicar álcool em gel nas mãos. Temendo ser dopada, a mulher entrou em pânico e fugiu do veículo, registrando posteriormente um boletim de ocorrência. Uma perícia concluiu que o líquido era apenas álcool em gel e não uma substância sedativa. A investigação foi arquivada, inocentando o motorista. Além da indenização, a emissora foi condenada a fazer uma retratação pública em um de seus noticiários de maior audiência.
São Paulo (SP) II - A Justiça determinou a penhora de R$ 88,9 mil de contas do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) em caso que envolve uma indenização por danos morais ajuizada pela repórter da Patrícia Campos Mello, do jornal Folha de S. Paulo. A medida foi decretada após o deputado não ter quitado o valor estabelecido pela sentença, proferida em 2021, no prazo legal. O montante inclui R$ 35 mil em indenização, custas processuais, honorários advocatícios e multas pela falta de pagamento. A penhora, no entanto, é temporária. Na época, a Justiça de SP condenou o parlamentar a pagar R$ 30 mil à jornalista. No mesmo ano, o TJ-SP manteve a condenação em primeira instância e o aumentou a indenização para R$ 35 mil.
Curitiba (PR) – O Jornal Plural se livrou em 6 de outubro da censura às reportagens sobre caso de coação de funcionários da Prefeitura de Curitiba, por decisão da Justiça Eleitoral. Após a publicação das matérias, a coligação de Eduardo Pimentel, vice-prefeito e candidato a prefeito pelo PSD, pediu a derrubada dos textos. Em caráter liminar, a censura foi acatada, por decisão do juiz Marcelo Mazzali, sob a justificativa de que os posts do jornal faziam “propaganda negativa” e poderiam criar “estados mentais artificiais” contra o vice-prefeito. Foram retirados três reportagens e cinco posts de Instagram. O jornal ingressou com um mandado de segurança e conseguiu derrubar a liminar.
Manaus (AM) I – O Ouvidor-Geral do município, ex-vereador Leonel Feitoza, empurrou o microfone do repórter João Paulo Castro, do portal Radar Amazônico, tratando-o de forma desrespeitosa, em 21 de outubro, durante a cobertura de uma manifestação de motociclistas de aplicativo. O caso ocorreu no portão de entrada da Prefeitura, no bairro da Compensa. Em vídeo gravado no momento do ocorrido é possível observar os motociclistas expulsando o ouvidor do local. Após a confusão, uma comissão de trabalhadores foi chamada para um encontro na sede do governo municipal.
Manaus (AM) II – O portal Radar Amazônico e as redes sociais de sua proprietária, Any Margareth, tiveram as atividades suspensas pelo juiz Roberto Santos Taketomi, da 32ª Zona Eleitoral, atendendo pedido do prefeito e candidato à reeleição, David Almeida (Avante). O político alegou que o portal descumpriu decisão anterior que concedia um direito de resposta a uma publicação considerada difamatória. Segundo a decisão, o Radar atrasou em mais de quatro horas a veiculação da resposta e, após sua publicação, adotou uma estratégia de “ofuscamento digital”, publicando simultaneamente outros conteúdos que minimizavam o alcance da manifestação judicial. O magistrado impôs, ainda, uma multa de R$ 50 mil e determinou a suspensão até 28 de outubro.
São Paulo (SP) III – Os herdeiros do jornalista Paulo Henrique Amorim, falecido em 2019, terão de indenizar em R$ 150 mil o ministro Gilmar Mendes, por publicações no blog Conversa Afiada. A 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) deu provimento a recurso do magistrado, por entender que “tanto o profissional de imprensa quanto os veículos de comunicação não podem, no exercício da função jornalística, descuidar do compromisso ético com a veracidade dos fatos narrados e assumir postura injuriosa ou difamatória com o simples propósito de macular a honra de alguém”. A postagem de 2016, intitulada “Convocação nas redes: focar no Gilmar!”, tratava o ministro de forma ácida e ofensiva pela alcunha de “Gilmar Dantas”, além de associar o magistrado ao PSDB, como se ele fosse filiado ao partido. O magistrado ajuizou ação, argumentando que o texto foi ilustrado com uma fotomontagem na qual sua imagem — de forma não autorizada — foi sobreposta à gravura de um personagem trajando roupas típicas de cangaceiro. E também sustentou que a publicação fazia uma espécie de convocação, dirigida às redes sociais, para que fosse promovida uma caçada contra ele.
Aracaju (SE) - A rede Record foi condenada a indenizar dois adolescentes em R$ 200 mil por terem seus rostos exibidos em uma reportagem do programa Cidade Alerta, em 2016. Na época, houve denúncias de maus-tratos contra um idoso que estaria sendo mantido em cárcere privado pela mulher, mãe dos garotos. Ao exibir o material, o programa mostrou o rosto dos adolescentes sem desfocar adequadamente a imagem, o que é contra o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A emissora já recorreu da sentença.
PELO MUNDO
EUA - As liberdades de expressão e de imprensa sofrem restrições generalizadas nas Américas, segundo a edição de 2024 do Índice Chapultepec da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), divulgada em 19 de outubro. A média das 22 nações analisadas entre 2 de agosto de 2023 e 1º de agosto de 2024 está abaixo da faixa intermediária da classificação, o que representa queda pelo segundo ano consecutivo. O Brasil ocupa o 6º lugar entre todas as regiões analisadas, com um aumento de oito posições (índice de 66,55), mas permanece no grupo de países com baixas restrições. O resultado reflete a redução das hostilidades a jornalistas e a organizações de notícias após um período de escalada de violência que culminou com os atos antidemocráticos contra os Três Poderes, em janeiro de 2023. Os países com “alta restrição” são Honduras, Peru, Guatemala, Bolívia e El Salvador, o que equivale a 23% da representação total do índice. No grupo “sem liberdade de expressão” estão Cuba, Venezuela e Nicarágua.
México I - O jornalista Mauricio Cruz Solís, do site “Minuto x Minuto” e apresentador da rádio “La Poderosa Uruapan”, foi assassinado a tiros na noite de 29 de outubro no estado de Michoacán, uma região afetada pela violência ligada ao crime organizado. O Ministério Público investiga o ataque que matou Solís e deixou outra pessoa ferida. O México é considerado um dos países mais perigosos para o exercício do jornalismo, com mais de 150 profissionais da imprensa assassinados desde 1994, segundo a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF). A morte de Solís é o primeiro homicídio de um jornalista durante o governo da presidente Claudia Sheinbaum, que assumiu em 1º de outubro.
Líbano - O cinegrafista Ghassan Najjar e o engenheiro de transmissão Mohammad Reda, do canal libanês al-Mayadeen, e o fotógrafo Wissam Qassem, da emissora al-Manar, dirigida pelo Hezbollah, morreram durante ataque aéreo israelense na madrugada de 25 de outubro na localidade de Hasbava, sul do país. Israel negou atacar os jornalistas de forma deliberada.
México II - A sede do jornal El Debate, em Culiacán, sofreu ataque a tiros na noite de 18 de outubro. Desconhecidos abriram fogo contra as instalações do jornal e quatro disparos de armas longas atingiram a fachada e vários outros danificaram quatro veículos. O governador de Sinaloa, Rubén Rocha, ordenou o reforço da presença policial na sede do periódico, em circulação há 70 anos.
Colômbia - O presidente Gustavo Petro pediu em 10 de outubro a “ativação imediata de rotas de segurança” para o portal Vorágine, que relatou ameaças às investigações relacionadas ao paramilitarismo e ao tráfico de drogas, e a seis jornalistas, identificados como “em alto risco”. O Vorágine é um portal independente surgido em 2020 e tem divulgado matérias sobre direitos humanos, conflitos armados, tráfico de drogas e meio ambiente.
Rússia - A jornalista ucraniana Victoria Roshchyna, de Ukrayinska Pravda, Hromadske e Radio Free Europe, morreu em uma prisão mais de um ano depois de ter desaparecido durante uma viagem para documentar a guerra nos territórios ocupados da Ucrânia. Ela havia recebido em 2022 o prêmio Coragem no Jornalismo pela International Women’s Media Foundation (IWMF). A morte foi confirmada em uma carta do Ministério da Defesa russo recebida por sua família em 10 de outubro. A Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) informou que as circunstâncias da morte permanecem desconhecidas. Apenas em maio deste ano a Rússia confirmou que ela havia sido detida e estava em solo russo.
França – A ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF) inscreveu em 10 de outubro no Memorial dos Repórteres, em Bayeux, os nomes dos 57 jornalistas mortos entre junho de 2023 e 2024, no exercício da profissão em diversas partes do mundo. A nominata passou a integrar a 31ª edição do Prêmio Bayeux-Calvados-Normandia para Correspondentes de Guerra.
Quirguistão - Os jornalistas Makhabat Tazhibek e Azamat Ishenbekov, do canal independente Temirov Liv, foram condenados em 10 de outubro pelo Tribunal Distrital de Leninskiy a seis e cinco anos de prisão, respectivamente. As prisões foram vinculadas a uma reportagem em vídeo publicada pelo Temirov Live e seu canal afiliado 'Ait Ait Dese', que alegou corrupção de alto nível do governo. Onze profissionais foram acusados de incitação a tumultos em massa e violência contra cidadãos. Os jornalistas Aktilek Kaparov e Ayke Beyshekeeva receberam sentenças de três anos de liberdade condicional, enquanto os sete restantes foram absolvidos devido a evidências insuficientes.
Senegal – O jornalista e analista político Cheikh Yerim Seck foi intimado e interrogado pela divisão de crimes cibernéticos da polícia em 1º de outubro, sendo posteriormente detido em razão de comentários feitos durante uma transmissão no canal de televisão privado 7TV. Ele está sendo processado “por divulgação de notícias falsas e difamação” por ter refutado os números oficiais sobre a situação econômica herdada da administração anterior. A União dos Profissionais de Informação e Comunicação do Senegal (SYNPICS) denunciou a prisão arbitrária e exige a libertação imediata e incondicional do comunicador.
Peru – O comerciante Marcelo Naranjo foi condenado a 24 anos de prisão pelo Quarto Juízo Oral de Julgamento Penal de Santiago pela morte da repórter Francisca Sandoval, do Canal 3 de La Victoria, no centro da capital peruana, em 1º de maio de 2022. O crime ocorreu durante confronto de manifestantes com um grupo de comerciantes no bairro Meiggs, que tentou impedir a passagem da marcha com uso de violência. Naranjo liderou uma contramanifestação com um grupo de comerciantes e, usando armas de fogo, atirou na multidão, ferindo Sandoval no rosto, que veio a falecer após 12 dias de internação.
Iêmen - O proprietário da Yemen Digital Media e do Yemen Live for Media Production and Satellite Broadcasting, Taha Ahmed Rashid Al-Maamari, que reside na Espanha desde 2015, foi condenado à morte e suas propriedades confiscadas sob acusações forjadas por um tribunal houthi na capital Sana'a. A Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) e sua afiliada, a YJS, condenam a decisão arbitrária e conclamam as autoridades e outros grupos armados a acabarem com o uso do poder judicial para tentar intimidar e silenciar jornalistas e trabalhadores da comunicação social no país.
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A Associação Riograndense de Imprensa (www.ari.org.br) disponibiliza o correio eletrônico imprensalivre@ari.org.br aos profissionais e estudantes da comunicação social para as denúncias envolvendo atentados ao livre exercício da profissão de jornalista.
Fontes:
ARI (www.ari.org.br), ABI (www.abi.org.br), Fenaj (www.fenaj.org.br), ANJ
(www.anj.org.br), Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br),
Abert (www.abert.org.br), Abraji (www.abraji.org.br), Portal Imprensa
(www.portalimprensa.com.br), Rede em Defesa da Liberdade de Imprensa
(www.liberdadedeimprensa.org.br), Portal Coletiva (www.coletiva.net), Portal
dos Jornalistas (https://www.portaldosjornalistas.com.br/), Jornalistas &
Cia (https://www.jornalistasecia.com.br/),
https://mediatalks.uol.com.br, Consultor Jurídico
(https://www.conjur.com.br/areas/imprensa), Sociedade Interamericana de
Imprensa (Miami), Federação Internacional de Jornalistas (www.ifj.org)
(Bruxelas), Sindicato dos Jornalistas de Portugal (www.jornalistas.eu)(Lisboa),
ONG Repórteres Sem Fronteiras (www.rsf.org) (Paris), Portal Comunique-se
(portal.comunique-se.com.br), Comitê de Proteção aos Jornalistas (Nova Iorque),
Centro Knight para o Jornalismo nas Américas (knightcenter.utexas.edu), ONG
Campanha Emblema de Imprensa (PEC), FreedomHouse (www.freedomhouse.org),
Associação Mundial de Jornais (www.wan-ifra.org), Comissão Interamericana de
Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) (http://www.oas.org/pt/cidh/),
Fórum Mundial dos Editores, https://forbiddenstories.org/,
https://www.mfrr.eu/, https://www.onefreepresscoalition.com/press e outras
instituições e entidades de defesa do livre exercício da profissão de
jornalista.
Pesquisa
e edição: Vilson Antonio Romero (RS)
vilsonromero@yahoo.com.br