quarta-feira, 31 de agosto de 2022

BOLETIM 08 - ANO XVII - AGOSTO DE 2022

A LIBERDADE DE IMPRENSA NO BRASIL E NO MUNDO

Destaques: Dono de jornal é executado no interior do RJ. Policial civil agride repórter na zona metropolitana da capital mineira. Presidente ataca jornalista da TV Cultura durante debate eleitoral. RSF vai monitorar assédio digital à imprensa durante a campanha de 2022. Talibã dizima meios de comunicação no Afeganistão. Profissionais perdem a vida no México e no Equador.

NOTAS DO BRASIL

Nova Lima (MG) - Um jornalista da Rádio Itatiaia foi agredido por um policial civil na noite de 27 de agosto, dentro de uma delegacia em Nova Lima, na região metropolitana da capital mineira. O repórter apurava a denúncia de que o policial Renan de Paula, candidato a deputado federal pelo PMN, tinha sido acusado de importunar sexualmente uma menina de 13 anos. Ao tentar fazer seu trabalho, na porta da delegacia, o jornalista teve seus equipamentos jogados no chão pelo acusado na frente de vários policiais que nada fizeram para evitar o ataque. Na sequência, o policial tomou o celular do repórter e se trancou em um banheiro. O jornalista foi atrás na tentativa de reaver seu equipamento, mas acabou levando um soco no estômago. O policial apagou os vídeos que o repórter tinha feito, antes de devolver o equipamento. Em nenhum momento, o agressor foi contido, detido, preso ou autuado em flagrante. O jornalista não conseguiu nem ao menos registrar queixa contra o policial na própria delegacia e teve que procurar uma base da PM para fazê-lo. Ele também solicitou as imagens da câmera externa da DP que mostram o momento em que é derrubado, mas não conseguiu acesso às imagens. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de MG lamenta a agressão e exige a apuração imediata do ocorrido. 

Italva (RJ) - O Portal dos Procurados divulgou em 13 de agosto um cartaz para ajudar nas investigações e localizar os suspeitos que assassinaram o empresário e jornalista Luiz Carlos Gomes, dono do jornal Tempo News. Ele foi morto a tiros por volta das 20h de 12 de agosto, na localidade de São Pedro Paraíso. Gomes também apresentava o programa “Quinta no Ar”, na rádio comunitária Oásis FM. Na noite do crime, Gomes estava em seu carro, acompanhado de sua esposa, Cristina Rios, depois de ter saído de uma festa quando dois homens em uma motocicleta atiraram doze vezes contra a vítima. O seu último programa foi uma conversa com uma ex-prefeita da cidade, quando ele leu uma lista da Fundação Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores Públicos do RJ (Ceperj) com nomes de contratados que supostamente recebiam dinheiro sem prestar serviços.

São Paulo (SP) I - A jornalista Vera Magalhães, da Rádio CBN, de O Globo e da TV Cultura, sofreu um ataque verbal do presidente da República durante debate na Band TV na noite de 28 de agosto. O candidato à reeleição acusou a apresentadora de “mentirosa” e, em tom desrespeitoso, afirmou que ela estaria “apaixonada” por ele. A manifestação ofensiva ocorreu quando a repórter abordou a importância da vacinação com o candidato Ciro Gomes (PDT) e criticou a postura do presidente no combate à pandemia. Após a resposta do pedetista, o mandatário iniciou uma série de ataques a Vera, a chamando de “mentirosa” e dizendo que não pediu a opinião da profissional. Ao final do debate, Vera Magalhães afirmou que o candidato teve uma postura “descontrolada e desnecessária”, além de classificar o comportamento do presidente como “prejudicial” a ele mesmo e que é da “natureza dele” não aceitar ser questionado por mulheres. A colunista de O Globo recebeu mensagens de solidariedade de telespectadores e entidades de classe.

 

Rio de Janeiro (RJ) I - O escritório da ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF) para a América Latina lançou, com o apoio do Fundo Canadá para Iniciativas Locais (FCIL) no Brasil, um projeto destinado a identificar, analisar, decifrar e denunciar ataques on-line contra jornalistas e comunicadores durante o processo eleitoral. A iniciativa é desenvolvida em parceria com o Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do ES, centro de pesquisa de referência especializado em análise de redes sociais e tendências digitais. Até o final do segundo turno, mais de cem contas, no Twitter e no Facebook, de jornalistas, influenciadores, autoridades públicas e candidatos às eleições, tanto em nível federal quanto estadual, serão monitoradas diariamente. Também serão examinados termos considerados como discursos estigmatizantes, ofensas e insultos recorrentemente utilizados nas redes para atacar jornalistas e a imprensa de modo geral. Os resultados deste trabalho serão compilados e publicados periodicamente, ao longo da campanha, no site da RSF. 

Rio de Janeiro (RJ) II - O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RJ (Sindjor-RJ), em parceria com a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), realizou em 19 de agosto, um evento abordando o Combate à Violência Política nas Eleições contra Jornalistas e Comunicadores. Ao final, foi firmado um protocolo de segurança para os profissionais de imprensa na cobertura das eleições de 2022 que foi amplamente divulgado nas redes sociais das entidades e enviado às empresas, autoridades e candidatos.

São Paulo (SP) II - O apresentador Gilberto “Leão” Barros foi condenado por crime de homofobia por ter dito, em setembro de 2020, em seu programa “Amigos do Leão” no YouTube, que “vomita” ao ver dois homens se beijando e que agrediria gays que manifestassem afeto em sua frente. O Tribunal de Justiça de SP (TJ-SP) o condenou à pena de dois anos de prisão, substituída por prestação de serviços à comunidade, e uma multa a ser revertida em cestas básicas destinadas a instituições que atendem comunidades LGBTQIA+. Ainda cabe recurso.

 

São Paulo (SP) III - A médica “antivaxxer” Maria Emília Gadelha Serra, já conhecida por ter exposto e atacado jornalistas de agências de checagem, postou em seu perfil no Twitter uma série de agressões verbais a jornalistas do podcast Ciência Suja, que recentemente publicou um episódio sobre o movimento antivacina no Brasil. Em um desses posts, a médica reproduziu uma gravação com a jornalista Chloé Pinheiro. Serra reconheceu Pinheiro na rua, foi até ela, gravou a interpelação e depois postou o vídeo na internet incitando ataques contra a profissional.

Brasília (DF) I – A rádio Jovem Pan deve se retratar publicamente no programa “Os Pingos nos Is” por ofensas ao senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Em agosto de 2021, comentaristas falaram sobre suposta prática de “rachadinha” pelo congressista o que não foi comprovado. A retratação deve ser realizada no mesmo horário, e com “o mesmo destaque” das declarações, por determinação da juíza Marilza Gebrim, do 1º Juizado Especial Civil. Cabe recurso.

São Paulo (SP) IV – O portal Brasil 247 se livrou de um pedido de indenização por danos morais ajuizado pelo empresário Luciano Hang, dono da empresa Havan. O processo decorreu da publicação pelo site de um texto que o chamava de “veio da Havan” e dizia que “os bilionários, como ele, crescem à custa do trabalho precarizado da população brasileira e não geram emprego no país”. Ele apontou violação à imagem, fama e honra e pediu indenização de R$ 50 mil. O desembargador Edson Queiroz, da 9ª Câmara de Direito Privado do TJ-SP negou recurso em sentença desfavorável de primeira instância. O entendimento foi de que “a configuração do dano moral apenas pode ocorrer no caso da dor, do vexame, da angústia profunda ou humilhação que fujam da normalidade e interfiram intensamente na esfera personalíssima da vítima”.

Brasília (DF) II - A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) foi representada, em 31 de agosto, pelo jornalista Hélio Doyle no seminário Defesa da Liberdade de Expressão no Estado de Direito, promovido pela Comissão Especial de Defesa da Liberdade de Expressão, do Conselho Federal da OAB. Durante o encontro que reuniu profissionais da imprensa e do Direito, o presidente da OAB, Beto Simonetti, manifestou o interesse da entidade em atuar com a ABI em defesa da liberdade de expressão e da liberdade de imprensa. O evento debateu, em três painéis: Liberdade de Expressão e Desinformação, Imprensa e Advocacia e Assédio Judicial e outros instrumentos de ataque à Liberdade de Expressão.

Salvador (BA) -A Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e dos Direitos Humanos (CDLIDH), a Comissão de Meio Ambiente (CMA) e a representação baiana da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) enviaram carta ao governador Rui Costa (PT), solicitando medidas de proteção aos povos originários que habitam e aos jornalistas que atuam em várias regiões do estado. A entidade alerta para “a gravidade da situação, já incontrolável, que ameaça jornalistas, educadores e indigenistas”. Tensões e conflitos em territórios indígenas relatadas desde o início de agosto continuam tomando proporções no Sul e Extremo Sul da BA. Povos originários afirmam que 'pistoleiros' chegaram a cercar aldeias na região.

PELO MUNDO

Equador – O jornalista Gerardo Delgado, da Ola Manta TV, foi morto a tiros em 10 de agosto quando se dirigia a uma cobertura jornalística na estrada Manta - Montecristi, na entrada do setor La Paola. No local da ocorrência, foram encontradas nove cápsulas e duas armas de fogo. A polícia da Comarca de Manta descartou que tenha havido alguma denúncia do comunicador alertando sobre qualquer ameaça contra ele.

México - Já são quinze os jornalistas assassinados neste ano no país, sendo que, em agosto houve a morte de três profissionais e quatro funcionários de uma emissora de rádio. A execução mais recente foi a do editor Fredid Román, do semanário La Realidad, na noite de 22 de agosto, em Chilpancingo, capital do estado de Guerrero. O profissional deixou o escritório por volta das 16h e entrou em seu carro quando dois homens em uma motocicleta abriram fogo contra ele. O jornalista foi baleado pelo menos quatro vezes. Alguns minutos antes, Román havia publicado em seu perfil no Facebook o que seria sua última coluna, na qual ele criticou o presidente Andrés Obrador na investigação do desaparecimento de 43 estudantes da cidade de Ayotzinapa, no mesmo estado, em 2014.

Nicarágua - O Instituto Nicaraguense de Telecomunicações e Correios (Telcor) cancelou a licença de transmissão de três emissoras de rádio. Com essa medida, já são 13 emissoras fechadas até agora em agosto, a maioria localizada no norte do país e com perfil católico. O Movimento de Jornalistas e Comunicadores Independentes (PCIN) denuncia que o governo Ortega exilou mais de 120 jornalistas, incluindo os integrantes da redação do jornal La Prensa, e eliminou a imprensa escrita e os programas de TV e rádio críticos ao governo.

Cuba - O jornalista e ativista Lázaro Yuri Valle Roca, detido desde junho de 2021, foi condenado a cinco anos de prisão pelos crimes de “propaganda inimiga contínua”. Valle Roca foi condenado junto com outros três dissidentes que receberam sentenças conjuntas de sete anos pelo mesmo crime.

Afeganistão – A ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF) revela que, um ano após o Talibã assumir o poder, 40% dos veículos de comunicação foram fechados e cerca de 60% dos jornalistas deixaram de atuar no país. Quando se estabeleceu o Emirado Islâmico do Afeganistão, em 15 de agosto de 2021, o país possuía 547 veículos de comunicação. Um ano depois, 219 pararam de operar. Dos 11.857 jornalistas identificados antes do Talibã chegar ao poder, apenas 4.759 permanecem até hoje. As mulheres jornalistas foram as primeiras vítimas dessa onda: 76,19% delas perderam o emprego.

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A Associação Riograndense de Imprensa (www.ari.org.br) disponibiliza o correio eletrônico imprensalivre@ari.org.br aos profissionais e estudantes da comunicação social para as denúncias envolvendo atentados ao livre exercício da profissão de jornalista.

O programa Conversa de Jornalista, transmitido aos finais de semana pela RS Rádio (https://rsradio.com.br/), pelo Facebook da ARI (https://www.facebook.com/ImprensaRS) e postado no início da semana no Spotify no canal da RS Rádio, apresenta a resenha das ocorrências nacionais e internacionais sobre liberdade de imprensa e expressão.

Fontes: ARI (www.ari.org.br), ABI (www.abi.org.br), Fenaj (www.fenaj.org.br), ANJ (www.anj.org.br), Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br), Abert (www.abert.org.br), Abraji (www.abraji.org.br), Portal Imprensa (www.portalimprensa.com.br), Rede em Defesa da Liberdade de Imprensa (www.liberdadedeimprensa.org.br), Portal Coletiva (www.coletiva.net), Portal dos Jornalistas (https://www.portaldosjornalistas.com.br/), Jornalistas & Cia (https://www.jornalistasecia.com.br/),  https://mediatalks.uol.com.br, Consultor Jurídico (https://www.conjur.com.br/areas/imprensa), Sociedade Interamericana de Imprensa (Miami), Federação Internacional de Jornalistas (www.ifj.org) (Bruxelas), Sindicato dos Jornalistas de Portugal (www.jornalistas.eu)(Lisboa), ONG Repórteres Sem Fronteiras (www.rsf.org) (Paris), Portal Comunique-se (portal.comunique-se.com.br), Comitê de Proteção aos Jornalistas (Nova Iorque), Centro Knight para o Jornalismo nas Américas (knightcenter.utexas.edu), ONG Campanha Emblema de Imprensa (PEC), Freedom House (www.freedomhouse.org), Associação Mundial de Jornais (www.wan-ifra.org), Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) (http://www.oas.org/pt/cidh/), Fórum Mundial dos Editores, https://forbiddenstories.org/, https://www.mfrr.eu/, https://www.onefreepresscoalition.com/press e outras instituições e entidades de defesa do livre exercício da profissão de jornalista.

Pesquisa e edição: Vilson Antonio Romero (RS)

vilsonromero@yahoo.com.br

segunda-feira, 1 de agosto de 2022

BOLETIM 07 - ANO XVII - JULHO DE 2022

 A LIBERDADE DE IMPRENSA NO BRASIL E NO MUNDO

Destaques: Profissionais sofrem ataques no SE e ES. MPF mantém prisão dos assassinos de Dom Phillips e Bruno Pereira. IAB instala Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa. Mais de 30 jornalistas já perderam a vida na guerra da Ucrânia. FIJ promove campanha #freeassangenow. 

NOTAS DO BRASIL

Capela (SE) - A repórter Jéssika Cruz, da TV Atalaia, foi atingida com uma pedra no olho e o repórter Genildo Gois, do Canal Elétrico, além de uma pedrada na testa, teve a camisa rasgada quando cobriam a 83ª edição da Festa do Mastro, em 3 de julho. Os profissionais estavam em cima de um mini trio elétrico quando ocorreram as agressões. A polícia identificou um dos suspeitos, morador da capital Aracaju, e que foi intimado a depor. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais (Sindijor/SE), e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) protestaram contra as agressões e se solidarizaram com os profissionais.

Manaus (AM) I - A Justiça aceitou, em 22 de julho, a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) e tornou réus os três investigados pelos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips. Os irmãos Amarildo e Oseney Oliveira e Jefferson Lima permanecerão detidos. Dom e Bruno desapareceram no início de junho no Vale do Javari, uma área remota na fronteira com a Colômbia e o Peru. Amarildo e Jefferson confessaram o crime. As investigações apontam que Bruno Pereira, ex-funcionário da Funai, já havia entrado em conflito com Amarildo por causa da pesca ilegal dentro do território indígena. De acordo com o MPF, o motivo dos assassinatos teria sido “o fato de Bruno ter pedido a Dom para fotografar o barco do suspeito”. O jornalista britânico teria sido morto para não identificar os assassinos. Os promotores consideraram a motivação “frívola”, uma designação que pode tornar as sentenças dos réus mais severas. 

São Paulo (SP) - Os jornais O Globo e A Tribuna, de Santos, tiveram ganho de causa determinado pela 2ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de SP (TJ-SP) em ação por danos morais movida pelo fotógrafo Naum Mendes. O autor fez um ensaio fotográfico com um casal para um “booking” pré-nupcial em uma praia de Santos (SP) em 14 de março de 2021, quando vigorava um decreto de fechamento do local, publicado no dia anterior, por causa da Covid-19. O profissional foi tema de reportagens publicadas nos dois jornais por ter desrespeitado a regra sanitária e relatou ter sofrido inúmeras críticas e ofensas de leitores e usuários das redes sociais. O relator, João Galhardo Jr., entendeu que o autor resolveu “desrespeitar, por vontade própria e deliberada, a norma municipal que impedia o acesso temporário às praias” e, sendo assim, “não pode ele agora se sentir constrangido por ter a imprensa apenas noticiado o fato”.

Rio de Janeiro (RJ) - O Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) instalou no início de julho, a Comissão de Defesa da Democracia, das Eleições e da Liberdade de Imprensa com apoio de instituições ligadas ao jornalismo, como a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), e terá representantes de diferentes entidades da sociedade civil. A presidência da comissão será exercida por Bernardo Cabral, ex-senador e ex-presidente do Conselho Federal da OAB, que terá como vice-presidente Margarida Pressburguer, do Subcomitê de Prevenção à Tortura da ONU. Presidente nacional da entidade, Sydney Sanches explica que a iniciativa visa “responder técnica e juridicamente a questões referentes ao processo eleitoral brasileiro, à desinformação e à preservação do Estado democrático de Direito, sempre com independência e sem proselitismos político-partidários”.

Vitória (ES) - A repórter Daniela Carla, da TV Gazeta, foi ameaçada e obrigada a deixar a comunidade do Cabral, na manhã de 19 de julho, quando cobria tiroteios e confrontos entre traficantes. Os disparos apavoraram os moradores de diversas regiões da área central da capital capixaba em razão dos integrantes de facções das favelas do Romão e do Alagoano tentarem invadir Moscoso e Cabral desde a noite do dia 17. A Guarda Municipal apura o caso. 

Maceió (AL) - O fotógrafo Edilson Omena e outros profissionais do jornal Tribuna Independente foram impedidos de fazer a cobertura da visita oficial do presidente da República, na manhã de 28 de junho, no bairro do Vergel do Lago, aonde ocorreu a entrega de 1.120 moradias a famílias de baixa renda. “Fomos informados na área de credenciamento, na entrada do evento da entrega das chaves dos residenciais no Vergel, de que não poderíamos entrar e que se quisesse participar da cerimônia seria como cidadão normal, e que o equipamento teria que ser deixado no carro. Ainda insisti, mas não teve outro jeito que retornar para a redação sem o trabalho concluído”, disse Omena. A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) repudiou o episódio e o classificou como uma falta de respeito aos profissionais da imprensa no livre exercício da atuação. 

Manaus (AM) II – O portal Amazônia Real foi obrigado pela 10ª Vara Cível e de Acidentes de Trabalho a retirar do ar a reportagem “Iate do Amazon Immersion estava sem autorização”, de autoria do jornalista Leanderson Lima. A matéria apontava os nomes dos donos da embarcação onde, em abril de 2021, em plena pandemia da Covid-19, ocorreu o evento “Amazon Immersion”, com turistas brasileiros e estrangeiros. Durante o evento, visitaram comunidades indígenas no entorno de Manaus, na bacia do rio Negro. A Justiça acatou pedido dos empresários Waldery Ferreira, Daniel Areosa e da empresa WL Sistema Amazonense de Turismo. A decisão é em caráter liminar e não julga o mérito da ação, cuja defesa pede uma indenização contra a agência no valor de 8 mil reais.

Brasília (DF) I - O site The Intercept Brasil e o Portal Catarinas são alvos de investigação requerida à Justiça e ao Conselho Regional de Medicina de SC pelo Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. Na origem, o procedimento de aborto legal realizado por médicos de SC em uma menina de 11 anos vítima de estupro. O site e o portal publicaram em parceria a reportagem que divulgava o caso e trechos do depoimento prestado pela menina à justiça. O requerimento do Ministério busca “apurar a responsabilidade cível e criminal do site The Intercept por veicular as imagens e o áudio do depoimento especial sigiloso”. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) pediu explicações ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, destacando que a prática coloca em risco as liberdades de expressão e de imprensa e ameaça a proteção do sigilo da fonte, premissas para o exercício do jornalismo.

Brasília (DF) II - A TV Brasil e a Agência Brasil (EBC) censuraram reportagens sobre o assassinato do petista Marcelo Arruda durante sua festa de aniversário em Foz do Iguaçu (PR). Os veículos omitiram o fato de o assassino, o policial penal federal Jorge Guaranho, ser apoiador do governo federal. E trataram o ocorrido, em que Guaranho chegou a gritar “aqui é Bolsonaro”, com música alta em alusão ao presidente, de “desentendimento”, seguido de uma “troca de tiros”. A Frente em Defesa da EBC e da Comunicação Pública repudiou a censura e citou os responsáveis pelo jornalismo na EBC, que promovem “sistemática prática de censura e promoção do governo federal”: a diretora Sirlei Batista, que comanda a empresa; Oussama El Ghaouri e Paulo Leite, na TV Brasil; Luciano Seixas e Gabriela Mendes, no radiojornalismo; e Juliana Andrade e Bruna Sanielle, na Agência Brasil.

Brasília (DF) III - O jornalista Valdo Cruz, da rede Globo, foi objeto de nota de repúdio do Centro de Comunicação do Exército em 22 de julho. Em sua coluna, o comentarista afirma que “para militares da ativa, o presidente da República ultrapassou todos os limites ao reunir embaixadores sediados em Brasília para fazer ataques contra ministros do STF e contra o processo eleitoral”. O Exército acusa Cruz de buscar a discórdia e a cisão entre os militares da ativa e o Ministro da Defesa e que teria sido porta-voz de “fake news” sobre as Forças Armadas. “Disseminar desinformação somente contribui para instabilidade entre as Instituições e, consequentemente, entre os brasileiros”, escreve o Centro de Comunicação.

PELO MUNDO

Ucrânia I - A redação do jornal Zorya, na cidade de Zolochiv, localizada na região de Kharkiv, foi atingida em 15 de julho por um bombardeio russo pela segunda vez desde o início da guerra, danificando as janelas, o telhado e até uma porta blindada instalada depois do primeiro incidente. O editor Vasily Miroshnik relatou à União Ucraniana de Jornalistas (NUJU) que os funcionários estão convencidos de que forças russas dispararam deliberadamente contra o jornal.  

Ucrânia II – Pelo menos 33 jornalistas morreram e 15 seguem desaparecidos desde o início dos ataques russos em 24 de fevereiro. Os números tornam o país de Volodymyr Zelensky em um dos locais mais perigosos para a atuação da imprensa. O Sindicato Nacional de Jornalistas da Ucrânia afirma que “a Rússia tentou impedir o jornalismo independente em território ocupado porque querem espalhar apenas propaganda pró-Rússia”. Diante deste cenário, a Unesco enviou para a Ucrânia equipamentos de proteção, como coletes e capacetes à prova de bala para os profissionais de imprensa. A entidade condenou veementemente a morte dos jornalistas. 

EUA I - A viagem do presidente dos EUA, Joe Biden, ao Oriente Médio ampliou as cobranças sobre o chefe de Estado acerca do relacionamento com países que violam os direitos à liberdade de expressão. Biden exigiu uma investigação “completa” e “transparente” sobre a morte da jornalista palestina Shireen Abu Akleh, da Al Jazeera. A jornalista, morta em maio, também tinha nacionalidade americana. Ela foi assassinada enquanto cobria uma operação israelense no campo de refugiados de Yenin, na Cisjordânia.

Nicarágua - O jornal La Prensa decidiu retirar todos os seus funcionários do país, depois de vários anos de perseguição por parte do governo de Daniel Ortega, que se agravou depois das eleições presidenciais de 2021. Um dos mais antigos jornais do país e o mais importante, o La Prensa já teve vários profissionais presos e intimidados, e desde ano passado funciona apenas on-line. A ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) revela que os últimos funcionários deixaram a Nicarágua clandestinamente entre 9 e 25 de julho, a fim de continuar realizando o trabalho de fora do país sem riscos junto com outros que já tinham se exilado. 

México – O jornalista Ruben Haro, fundador e diretor de Las Noticias de la Red, escapou ileso de atentado a tiros ocorrido na madrugada de 17 de julho em Ciudad Obregón, no estado de Sonora. Homens não identificados efetuaram diversos disparos que atingiram o veículo que o profissional dirigia. A Promotoria Especializada de Atendimento aos Crimes Contra a Liberdade de Expressão (FEADLE) apura o caso.

EUA II - A jornalista independente mexicana e cofundadora do Reporteras en Guardia, Laura Castellanos e o jornalista investigativo e escritor chileno Daniel Matamala estão entre os vencedores do Prêmio Maria Moors Cabot 2022, anunciado em 21 de julho pela Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia, em Nova York. O jornalista e cocriador peruano-americano, junto com sua esposa, do podcast Radio Ambulante, Daniel Alarcón, e o correspondente britânico no México Ioan Grillo também receberam as Medalhas de Ouro Cabot. Este ano, o júri também decidiu conceder uma Menção Honrosa 2022 ao jornalista independente mexicano Javier Garza Ramos, por sua carreira e esforços para promover a segurança de todos os jornalistas. O Prêmio Maria Moors Cabot é o prêmio internacional de jornalismo mais antigo do mundo, criado em 1938 pela Universidade de Columbia para reconhecer jornalistas e meios de comunicação que buscam “promover a compreensão interamericana”. Em cada ano, os vencedores da medalha de ouro também recebem um prêmio de US$ 5 mil. Os vencedores do Prêmio Cabot 2022 e o vencedor da Menção Honrosa serão homenageados na Universidade de Columbia em 11 de outubro.

EUA III – A Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ) lançou uma campanha global pedindo ao governo dos EUA que retire todas as acusações contra Julian Assange, fundador do Wikileaks, e permita que ele volte para casa. A FIJ também está pedindo a todos os sindicatos da mídia, organizações de liberdade de imprensa e jornalistas que se engajem na campanha #freeassangenow e incitem os governos a trabalhar ativamente para garantir a libertação do jornalista. Em 17 de junho, o Reino Unido aprovou a extradição de Assange para os EUA para enfrentar acusações, principalmente sob a Lei de Espionagem do país, por divulgar registros do governo norte-americano que revelaram que seus militares cometeram crimes de guerra contra civis no Afeganistão e no Iraque, incluindo o assassinato de dois jornalistas da Reuters. Se for considerado culpado, Assange pode pegar uma pena de prisão de até 175 anos.

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A Associação Riograndense de Imprensa (www.ari.org.br) disponibiliza o correio eletrônico imprensalivre@ari.org.br aos profissionais e estudantes da comunicação social para as denúncias envolvendo atentados ao livre exercício da profissão de jornalista.

 

O programa Conversa de Jornalista, transmitido aos finais de semana pela RS Rádio (https://rsradio.com.br/), pelo Facebook da ARI (https://www.facebook.com/ImprensaRS) e postado no início da semana no Spotify no canal da RS Rádio, apresenta a resenha das ocorrências nacionais e internacionais sobre liberdade de imprensa e expressão.

 Fontes: ARI (www.ari.org.br), ABI (www.abi.org.br), Fenaj (www.fenaj.org.br), ANJ (www.anj.org.br), Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br), Abert (www.abert.org.br), Abraji (www.abraji.org.br), Portal Imprensa (www.portalimprensa.com.br), Rede em Defesa da Liberdade de Imprensa (www.liberdadedeimprensa.org.br), Portal Coletiva (www.coletiva.net), Portal dos Jornalistas (https://www.portaldosjornalistas.com.br/), Jornalistas & Cia (https://www.jornalistasecia.com.br/),  https://mediatalks.uol.com.br, Consultor Jurídico (https://www.conjur.com.br/areas/imprensa), Sociedade Interamericana de Imprensa (Miami), Federação Internacional de Jornalistas (www.ifj.org) (Bruxelas), Sindicato dos Jornalistas de Portugal (www.jornalistas.eu)(Lisboa), ONG Repórteres Sem Fronteiras (www.rsf.org) (Paris), Portal Comunique-se (portal.comunique-se.com.br), Comitê de Proteção aos Jornalistas (Nova Iorque), Centro Knight para o Jornalismo nas Américas (knightcenter.utexas.edu), ONG Campanha Emblema de Imprensa (PEC), Freedom House (www.freedomhouse.org), Associação Mundial de Jornais (www.wan-ifra.org), Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) (http://www.oas.org/pt/cidh/), Fórum Mundial dos Editores, https://forbiddenstories.org/, https://www.mfrr.eu/, https://www.onefreepresscoalition.com/press e outras instituições e entidades de defesa do livre exercício da profissão de jornalista.

Pesquisa e edição: Vilson Antonio Romero (RS)

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