sexta-feira, 31 de março de 2023

BOLETIM 3 ANO XVIII - MARÇO DE 2023

 A LIBERDADE DE IMPRENSA NO BRASIL E NO MUNDO

Destaques: Profissionais da comunicação denunciam assédio judicial em SP, PB e SC. Repórteres sofrem agressões e ataques em PE, BA e RS. Abraji contabiliza mais de 500 ocorrências contra a imprensa em 2022. Rússia prende jornalista americano por alegada espionagem. Leis de proteção aos profissionais da mídia avançam no México e no Chile.

NOTAS DO BRASIL

Recife (PE) – O repórter Alex Silvestre, o cinegrafista Anderson Bolinha e o motorista Carlos Alberto, da TV Guararapes, sofreram agressões de quatro indivíduos quando faziam a entrada ao vivo para o programa Cidade Alerta, registrando um incêndio no bairro do Ipsep, na Zona Sul da capital pernambucana, na noite de 10 de março. Os agressores partiram para cima da equipe de reportagem, na tentativa de impedir que os profissionais de imprensa filmassem o incêndio e conversassem com as famílias que moravam no imóvel atingido. A câmera foi jogada ao chão. Após o ataque, os agressores fugiram. Foi registrado um boletim de ocorrência na polícia local e as entidades de classe divulgaram nota repudiando o ocorrido.

Porto Alegre (RS) - O cinegrafista Gabriel Bolfoni, da RBS TV, foi agredido no início da noite de 26 de março, durante a cobertura de confusão e briga generalizada ao final do jogo entre Internacional e Caxias, no Estádio Beira-Rio, pela semifinal do campeonato gaúcho de futebol. Um torcedor colorado, que invadiu o campo com uma criança no colo, desferiu um chute contra o profissional. A Polícia Civil (PC) identificou o agressor e já o indiciou pelos crimes de lesão corporal e invasão ao campo, assim como em outros enquadramentos do Estatuto da Criança e do Adolescente.   

Rio de Janeiro (RJ) - Uma equipe de reportagem do portal UOL foi impedida pela diretoria do Flamengo de acessar, em 23 de março, o centro de treinamento do Ninho do Urubu. Segundo foi apurado, tratou-se de uma retaliação do clube contra a entrevista de um ex-funcionário do time, que relatou ter havido alteração na cena do incêndio que matou dez crianças do futebol de base do Flamengo, quatro anos atrás. Entidades de classe enviaram notas à direção do clube, protestando contra o cerceamento ao trabalho dos jornalistas.

São Paulo (SP) I – A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), em parceria com o curso de Jornalismo da Universidade de São Paulo (USP) e com o apoio da Embaixada Britânica, divulgou em 29 de março seu “Monitoramento de ataques a jornalistas no Brasil”.  No documento, a entidade revela  que os ataques contra jornalistas cresceram 23% em 2022, chegando a 557 episódios. Em 41,6% dos casos, estão envolvidos familliares do ex-presidente da República. Há também 145 ocorrências de violência de gênero e/ou contra  mulheres jornalistas. Os discursos estigmatizantes que buscam descredibilizar profissionais e veículos são a forma de ataque mais comum – alcançando 61,2% dos alertas em 2022. Houve, no ano passado, aumento dos episódios de agressões físicas, intimidação, ameaças e/ou destruição de equipamentos que atingiram 31,2% do total. Maiores detalhes no site da Abraji.

Brasília (DF) – A comentarista Basilia Rodrigues, da CNN Brasil, foi vítima de racismo por parte de um apoiador do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG). “Não presta nem pra dar faxina”, comentou o internauta. No quadro Dois Lados exibido em 14 de março pela CNN, Basilia entrevistou o parlamentar e a deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS). Na ocasião, os deputados debateram a possível cassação do mandato de Nikolas por fala transfóbica no plenário da Câmara, quando ele também fez questionamentos sobre o conceito de “ser mulher”. Em seu perfil no Twitter, Basilia compartilhou o print da mensagem  publicada na caixa de comentários do canal da emissora no YouTube. “Parabéns, Nikolas. E essa repórter???? Presta nem pra dar faxina”. Na legenda, a jornalista escreveu de forma sucinta: “Isso tem nome”, em referência ao racismo sofrido. Entidades de classe se solidarizam com a profissional.

São Paulo (SP) II – O The Intercept Brasil informa que está sendo alvo de mentiras e difamação, que o associam à organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Marc Sousa, coordenador de Jornalismo da Jovem Pan no PR, publicou em um site parceiro do portal R7 que o Intercept teria recebido doações do PCC, segundo relatório interceptado pela Polícia Federal (PF). O veículo reiterou que a informação é caluniosa e trata-se de “jogo sujo”. Na noite de 24 de março, a equipe do Intercept recebeu um e-mail de Sousa com perguntas sobre os supostos pagamentos do PCC. Ele deu um prazo de menos de 12 horas para as respostas. O Intercept buscou e analisou os 17 nomes das pessoas ligadas ao PCC mencionadas no relatório, e detectou que nenhum deles consta na lista de doadores. O Intercept destaca também que, curiosamente, não há nesse relatório da PF menção ao nome da pessoa que teria escrito tal documento. A matéria, porém, foi publicada por Sousa sem qualquer posicionamento do Intercept, enviado cerca de 40 minutos antes da publicação da nota. Apenas depois de horas de exigências do Intercept, o texto foi atualizado com o posicionamento do veículo. O Intercept também já foi alvo de ataques da Record e do R7, após revelar a pressão interna nas redações desses veículos para apoiar o ex-presidente da República nas eleições de 2018.

Foz do Iguaçu (PR) - Aluízio Palmar, editor do site Documentos Revelados e presidente do Centro de Direitos Humanos e Memória Popular, revela estar sofrendo ameaças em decorrência de matéria publicada em 13 de março. No texto intitulado “Tipos de tortura usados durante a ditadura militar”, foram publicados comentários, de origem identificada, como: “as torturas  deveriam sim continuar e serem mais fortes”, e desejando a morte da ex-presidente da República, Dilma Rousseff. Ao retrucar o comentário, Palmar foi ameaçado. Os sindicatos dos jornalistas do PR (SindijorPR) e do Norte do PR (Sindijor Norte PR), assim como a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) repudiaram as ameaças e cobraram “atitudes das autoridades para que as ameaças direcionadas a Palmar não sigam impunes e, ainda, para preservação de sua integridade”.

Salvador (BA) - O jornalista João Pedro Pitombo, do jornal Folha de S. Paulo, sofreu ataques virtuais do deputado estadual Rosemberg Pinto (PT), líder do governo de Jerônimo Rodrigues (PT) na Assembleia Legislativa. Rosemberg contestou reportagem de João Pedro sobre a suposta omissão no currículo da esposa do ministro da Casa Civil e ex-governador da BA, Rui Costa (PT), da função de assessora especial da Secretaria de Saúde do estado, que estaria sendo exercida desde maio de 2014. Em vídeo do portal de notícias Aratu On, o parlamentar  acusou o jornalista de “mentiroso” e “machista”. A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), o Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba ), a Associação Bahiana de Imprensa (ABI) e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji ) manifestaram solidariedade ao profissional.  

São Paulo (SP) III - A Revista Fórum deve indenizar o restaurante Coco Bambu por reportagem que dizia que o restaurante sediou uma festa em comemoração à marca de cem mil mortes por Covid-19 no Brasil. O desembargador Galdino Toledo Júnior, da 9ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de SP, apontou evidências de que a reportagem, “de forma injustificada”, forjou informações sobre o restaurante, com objetivo de “depreciar e macular a sua honra subjetiva, até porque totalmente despropositada e imoral a afirmação de que 'a rede ficou conhecida como o restaurante que celebrou cem mil mortes'“. Para o relator, não há problema em associar o Coco Bambu a apoiadores do ex-presidente da República, com uso da expressão “bolsonarista”, “pois seus sócios admitiram publicamente essa preferência política e, ao exporem essa opção, certamente assumiram o risco de ver a própria pessoa jurídica, que embora tenha personalidade jurídica diversa das pessoas física daqueles, ligada a essa escolha”.  O problema da reportagem, na visão de Toledo Júnior, está na “vergonhosa” associação de um evento promovido em Brasília com uma suposta comemoração pela morte de cem mil brasileiros por Covid-19, “ato certamente despropositado e desumano”.

São Paulo (SP) IV – O The Intercept Brasil sofre assédio judicial por parte da Igreja Universal do Reino de Deus, segundo informações do Instituto Vladimir Herzog. Em comunicado, a ONG revela que a organização religiosa liderada pelo bispo Edir Macedo entrou na Justiça contra o portal devido à publicação, em 2022, de uma reportagem do repórter Gilberto Nascimento acerca de investigação do Ministério Público de SP sobre suposto esquema de lavagem de dinheiro pela Universal. Ainda de acordo com o instituto, a Universal foi procurada pela equipe do Intercept, mas não se pronunciou. Na ação judicial, os advogados da igreja estariam pedindo a abertura de uma investigação policial alegando “divulgação sem justa causa” e quebra de sigilo. O jornalista Flávio V. M. Costa, editor-chefe do The Intercept Brasil, afirmou que a investigação que causou a ira da Universal revelou um “levantamento sigiloso” do MP-SP que mostraria depósitos bancários de R$ 33 bilhões feitos entre 2011 e 2015 em contas ligadas à igreja.

João Pessoa (PB) - Os jornalistas Eduardo Reina e Camilo Toscano estão sendo processados em razão da divulgação do documentário “Justiça Contaminada – O Teatro Lavajatista da Operação Calvário na Paraíba”, lançado no ano passado. A Rede de Proteção de Jornalistas e Comunicadores, liderada pelo Instituto Vladimir Herzog e pela  ONG Artigo 19, considera estar havendo perseguição judicial por parte do desembargador Ricardo Vital de Almeida. Ele sustenta que o documentário contém “diversas palavras ofensivas à sua imagem e à sua honra” e pede suspensão da veiculação do trabalho, pagamento de compensação por danos morais de 40 salários mínimos, além da abstenção pelos jornalistas de qualquer comentário ofensivo à sua imagem. Alegando que tal medida configuraria censura prévia, a Justiça rejeitou o pedido para que os jornalistas deixem de fazer comentários ofensivos à imagem do desembargador. O documentário, disponível no YouTube, critica o “lava-jatismo” da Operação Calvário. Realizada em 2019, ela envolvia o então governador paraibano Ricardo Coutinho de liderar uma organização criminosa que fraudava contratos na área da saúde.O documentário ressalta que o desembargador Almeida e o promotor Octávio Paulo Neto, do Ministério Público (MP-PB), eram chamados de “Moro e Dallagnol da Paraíba”. Eduardo Reina informou que há de três ações contra ele e Toscano. O desembargador foi procurado, sem resposta, várias vezes durante a produção do documentário.

Florianópolis (SC) - A jornalista investigativa Schirlei Alves sofre seis processos judiciais por ter revelado no site do The Intercept Brasil os detalhes de uma audiência do caso Mariana Ferrer. Mariana é uma influenciadora que afirmou ter sido estuprada pelo empresário André de Camargo Aranha em um “beach club” de luxo, em 2018. Ele foi inocentado das acusações pois, segundo o promotor responsável pelo caso, não havia como o empresário saber que Mariana não estava em condições de consentir a relação, e, portanto, não houve intenção de estuprar, uma espécie de “estupro culposo”. Os autores das ações judiciais com Alves são o advogado do empresário acusado pelo estupro, o promotor de Justiça que atuou no caso e o juiz que deu a sentença final. Organizações da sociedade civil assinaram nota em que repudiam as ações judiciais, entendidas como uma forma de intimidar jornalistas, e destacam a importância da reportagem de Schirlei para que o caso ganhasse repercussão nacional.

Belém (PA) – A Record TV é processada pelo Ministério Público Federal (MPF) em uma ação civil pública por causa do programa Balanço Geral PA, que exibiu cadáveres em pleno horário de almoço e entrevistou presos de forma humilhante, sem direito de defesa. A emissora e a equipe do programa são acusadas de desrespeitar direitos humanos, após o MPF monitorar por três meses as edições do Balanço Geral no PA, atendendo denúncia da Secretaria Extraordinária de Cidadania e Direitos Humanos da capital paraense, em fevereiro de 2020. A ação também tem como réus a União e o judiciário paraense, por falta de fiscalização. Na petição, há informações de que repórteres da Record entrevistam suspeitos de crimes em delegacias sem qualquer direito de resposta, defesa ou advogado, confrontando-os por seus supostos crimes sem terem como se defender. O MPF destaca ainda que a maioria desses entrevistados é negra, o que denotaria racismo por parte da linha editorial do programa. Sobre a exibição de cadáveres no programa, o MPF avalia que o conteúdo é “chocante e inadequado para a televisão, além de expor vítimas de violência extrema sem necessidade”. Os promotores  pedem que a Record assine um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) se comprometendo a não exibir mais cadáveres no programa e nem entrevistar suspeitos de forma humilhante e sem consultar seus advogados. A emissora pagará uma multa de R$ 10 mil para cada termo não atendido.

PELO MUNDO

Guatemala - O jornalista comunitário Eduardo Fernando Mendizabal Gálvez, do Visor de Villa Canales, foi assassinado na periferia da capital guatemalteca em 18 de março. No local do crime foram encontrados 30 cartuchos de balas e um celular. Além disso, os encarregados da investigação coletaram vídeos de vigilância de empresas próximas à cena do crime e depoimentos de testemunhas.

Rússia – O correspondente Evan Gershkovic, do jornal Wall Street Journal , dos EUA, foi detido em 30 de março na cidade de Yekaterinburg, acusado de espionagem. Segundo uma agência de segurança, o jornalista “estava agindo sob ordens do lado norte-americano para coletar informações sobre as atividades de uma das empresas do complexo industrial militar russo, que constituem um segredo de Estado”. O jornalista mora em Moscou há seis anos. A porta-voz do governo afirmou que o repórter estava usando suas credenciais para “atividades que nada têm a ver com jornalismo”. Se for condenado, Gershkovic pode pegar até 20 anos de prisão. O Wall Street Journal negou as acusações de espionagem.

Paraguai - A Justiça anulou a absolvição de Waldemar Pereira Rivas, conhecido como Cachorrão, principal suspeito de matar o jornalista Léo Veras, em 2020. Em novembro do ano passado, Rivas foi considerado inocente pelo Tribunal de Sentença de Pedro Juan Caballero, sob a alegação de falta de provas. Acusado de homicídio doloso e associação criminosa, ele era proprietário do Jeep Renegade branco que teria sido usado para transportar os três homens que executaram Veras. A apelação que levou à anulação foi apresentada pelo procurador Andrés Arriola, da Unidade Especializada de Crime Organizado. Léo Veras foi executado com 12 tiros enquanto jantava com sua família em fevereiro de 2020, em Pedro Juan Caballero, na fronteira com Ponta Porã (MS). Com frequência ele noticiava a disputa do narcotráfico na fronteira e os crimes ligados ao PCC na região.

Colômbia – A redação do jornal El Heraldo, em Barranquilla, foi invadida em 27 de março por homens armados. Dois deles entraram e exigiram falar com a diretora Erika Fontalvo. Três jornalistas tiveram que sair para conversar com os membros do grupo, que disseram ter uma mensagem de Digno Palomino, seu líder, que supostamente quer contribuir para negociações para a paz e pedia a publicação de uma entrevista que a quadrilha realizou. Na semana anterior, um membro do grupo criminoso Los Costeños ligou para a redação do El Heraldo e exigiu que seu líder, vulgo “El Castor”, fosse entrevistado. O Zona Cero, veículo de mídia digital, também foi  vítima de ameaças anônimas nas redes sociais, na qual diziam que “seus funcionários irão apodrecer com bombas em suas instalações“.

Haiti - O jornalista francês Romain Molina que expôs no jornal Guardian as acusações de abuso sexual contra Yves Jean-Bart, ex-presidente da federação haitiana de futebol, está sendo processado por difamação. Molina documentou abusos contra jogadores menores de idade e o processo corre no Tribunal de Paris. Em novembro de 2020, a FIFA baniu Jean-Bart após sua própria investigação sobre abusos, chamando a exploração sexual,sob sua gestão na federação, de 'imperdoável, uma vergonha”.

México - O Senado revogou por unanimidade em 15 de março a Lei sobre Crimes de Imprensa que vigorava desde 1917. O texto, aprovado em um contexto político instável, incentivava a censura e as ameaças à associação jornalística provenientes do poder público. E também penalizava qualquer manifestação ou expressão verbal que expusesse uma pessoa ao ódio, desprezo, ridículo, ou pudesse causar demérito ou reputação ou interesses.

Chile – A Comissão de Cultura, Artes e Comunicações da Câmara dos Deputados enviou ao Plenário em 6 de março o projeto de lei que oferece garantias de segurança e proteção a jornalistas e trabalhadores das comunicações. Se o projeto for aprovado na Câmara, deve depois tramitar no Senado.

Bolívia - Os jornalistas Helga Velasco, da Cadena A, Carla Mercado, da rede Unitel, Iris Toro, da rádio Kollasuyo, Sergio Mendoza, do Los Tiempos, e um jornalista da TV OFF sofreram agressões e foram ameaçados em diversas ocasiões no exercício da profissão desde 7 de março. A Associação Nacional de Jornalistas da Bolívia (ANPB) e a de Jornalistas de La Paz (APLP) denunciam a repetição da violência contra jornalistas durante a cobertura de mobilizações sociais.

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A Associação Riograndense de Imprensa (www.ari.org.br) disponibiliza o correio eletrônico imprensalivre@ari.org.braos profissionais e estudantes da comunicação social para as denúncias envolvendo atentados ao livre exercício da profissão de jornalista.

Fontes: ARI (www.ari.org.br), ABI (www.abi.org.br), Fenaj (www.fenaj.org.br), ANJ (www.anj.org.br), Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br), Abert (www.abert.org.br), Abraji (www.abraji.org.br), Portal Imprensa (www.portalimprensa.com.br), Rede em Defesa da Liberdade de Imprensa (www.liberdadedeimprensa.org.br), Portal Coletiva (www.coletiva.net), Portal dos Jornalistas (https://www.portaldosjornalistas.com.br/), Jornalistas & Cia (https://www.jornalistasecia.com.br/),  https://mediatalks.uol.com.br, Consultor Jurídico (https://www.conjur.com.br/areas/imprensa), Sociedade Interamericana de Imprensa (Miami), Federação Internacional de Jornalistas (www.ifj.org) (Bruxelas), Sindicato dos Jornalistas de Portugal (www.jornalistas.eu)(Lisboa), ONG Repórteres Sem Fronteiras (www.rsf.org) (Paris), Portal Comunique-se (portal.comunique-se.com.br), Comitê de Proteção aos Jornalistas (Nova Iorque), Centro Knight para o Jornalismo nas Américas (knightcenter.utexas.edu), ONG Campanha Emblema de Imprensa (PEC), FreedomHouse (www.freedomhouse.org), Associação Mundial de Jornais (www.wan-ifra.org), Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) (http://www.oas.org/pt/cidh/), Fórum Mundial dos Editores, https://forbiddenstories.org/, https://www.mfrr.eu/, https://www.onefreepresscoalition.com/press e outras instituições e entidades de defesa do livre exercício da profissão de jornalista.

Pesquisa e edição: Vilson Antonio Romero (RS)

vilsonromero@yahoo.com.br

quarta-feira, 1 de março de 2023

BOLETIM 2 ANO XVIII - FEVEREIRO DE 2023

 A LIBERDADE DE IMPRENSA NO BRASIL E NO MUNDO

Destaques: Profissionais sofrem agressões físicas e verbais em SP, BA, ES e DF. Glenn Greenwald pode manter postagens críticas sobre o senador Sérgio Moro. Jornalistas são mortos a tiros no Paraguai e nos EUA. SIP denuncia assédio judicial contra a imprensa panamenha.

NOTAS DO BRASIL

São Sebastião (SP) –O fotógrafo Tiago Queiroz e a repórter Renata Cafardo, do jornal O Estado de S.Paulo, foram xingados e agredidos por um grupo de moradores do condomínio Vila de Anoman, em Maresias, quando cobriam a tragédia no litoral norte. Um deles obrigou Queiroz a apagar fotos que tinha feito das ruas do condomínio alagado, com carros danificados. O fotógrafo, no entanto, salvou as imagens em outro cartão de memória. Outro morador empurrou a repórter Renata Cafardo em um alagamento e tentou roubar seu celular. Um funcionário do condomínio e outros moradores tinham autorizado a reportagem a entrar no local. Quando o grupo viu a reportagem, no entanto, passou a xingar a equipe com palavrões e acusar o Estadão de ser “comunista e esquerdista”.

Salvador (BA) I - Orepórter Pedro Macedo Júnior, dosite Nordeste Eu Sou (NES) e do coletivo Voz das Comunidades, relatou ter sido agredido por policiais em 22 de fevereiro durante a cobertura do Carnaval. Segundo a Polícia Militar, uma patrulha foi atingida por latas e garrafas atiradas por foliões, o que teria iniciado o conflito. Além de ser agredido e ter desmaiado, o jornalista não foi socorridoe os próprios colegas tiveram de abrir caminho na multidão para levá-lo ao hospital. Depois do atendimento médico, foi feito boletim de ocorrência. As autoridades locais buscam imagens de câmeras de segurança para esclarecer o ocorrido.

Riachão do Jacuípe (BA) - A repórter Alana Rocha, da Rádio Gazeta FM, foi ofendida e sofreu deboches do vereador Valdiney  de Jesus (União Brasil), em 16 de fevereiro, por ser uma mulher trans. Durante a sessão da Câmara de Vereadores, o político usou palavras jocosas e referências homofóbicas dirigidas à jornalista.

São Pedro da Aldeia (RJ) - A repórter Sara York, colunista do site 247, foi agredida em 19 de fevereiro pelo secretário de Ordem Pública, Diego Alves, e alguns seguranças, quando tentava fotografar, do palco, o evento de Carnaval municipal. Mulher travesti, York, levou uma “gravata” e foi retirada do lugar, embora tivesse sido autorizada, anteriormente, a fazer a cobertura.

Vitória (ES) - O jornalista Vitor Vogas, do jornal A Gazeta, foi atacado pelo senador Marcos Do Val (Podemos), com postagens nas redes sociais. O texto intitulado “Análise: Marcos do Val e sua irresistível vocação para autossabotagem”, motivou que o parlamentar chamasse Vogas de “esquerdista travestido de jornalista”.  Depois de apresentar inúmeras versões sobre uma tentativa de fazer escuta de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), o político tentou descredenciar a imprensa capixaba.

Nova Santa Rita (RS) - A Câmara Municipal abriu processo de cassação do mandato do vereador Eliel Alves (PRTB) por quebra de decoro parlamentar. O pedido decorreu de agressão a uma equipe de reportagem da RDC TV, em Porto Alegre (RS), em janeiro deste ano. Eliel acertou um soco em um cinegrafista quando profissionais registravam o fim do acampamento montado na região do Comando Militar do Sul, por apoiadores do ex-presidente da República. A representação foi protocolada por PT, PDT e MDB em 10 de janeiro.

Salvador (BA) II - O jornalista João Pedro Pitombo, do jornal Folha de S. Paulo, foi chamado de mentiroso pelo deputado estadual Rosenberg Pinto (PT), líder do governo na Assembleia Legislativa. A declaração, durante entrevista on-line ao portal Aratu On em 27 de fevereiro, se referia à reportagem em que Pitombo revela que Aline Peixoto, esposa do ministro-chefe da Casa Civil do governo federal, Rui Costa, não informou em seu currículo que ocupa um cargo no governo da BA desde 2014. Peixoto concorre a uma vaga no Tribunal de Contas dos Municípios. Rosenberg acrescentou que o correspondente da Folha “escreve contra a Bahia”. Mas, ao defender a esposa do ex-governador e hoje ministro, Rosenberg não apresentou nenhuma informação que desmentisse a reportagem.

São Paulo (SP) I - O comentarista Augusto Nunes e a rádio Jovem Pan foram condenados a indenizar em R$ 15 mil o jornalista Francisco Nogueira, diretor do blog Diário do Centro do Mundo. Em 2018, durante o programa Os Pingos nos Is, Nunes, que, à época, era comentarista da Jovem Pan, disse que Nogueira fora demitido da editora Abril por “assédio a uma funcionária”. Um dia antes da declaração, o jornalista havia publicado em seu blog um texto no qual chamava Nunes de “jornalista de extrema direita”. Nunes e a emissora venceram o processo em primeira instância, mas no recurso, a desembargadora Ana Zomer, relatora do processo, entendeu que “o comentarista da Jovem Pan tratou do assunto de forma leviana, sem publicar informações objetivas e contextualizadas”. Cabe recurso da decisão

Curitiba (PR) - O jornalista Glenn Greenwald logrou êxito na 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do PR, mantendo posts nos seus perfis no Twitter e YouTube em que chama de “juiz corrupto”o senador Sérgio Moro (União-PR). A ação ajuizada pelo agora parlamentar visava a exclusão dos posts onde o jornalista escreveu: “O corrupto juiz brasileiro que ordenou a prisão de Lula em 2018 para impedi-lo de concorrer à presidência, e que, em seguida, foi trabalhar para Bolsonaro ocupando o cargo de ministro da Justiça (como uma forma de deixar de acusar Bolsonaro de corrupção), está agora concorrendo à presidência da República, e acusa Bolsonaro e Lula de fazerem campanha de apoio a Putin”. Moro também pede indenização de R$ 200 mil por danos morais e ainda pode recorrer aos tribunais superiores.

João Pessoa (PB) - O apresentador Sikêra Jr., da TV Arapuã, afiliada da RedeTV, teve sua prisão solicitada pelo Ministério Público Federal (MPF) por crime de racismo. Em junho de 2018, durante o programa Cidade em Ação, ele chamou uma mulher negra de “vagabunda”, “preguiçosa” e “venta de jumenta”. Para o MPF, o apresentador extrapolou os limites da liberdade de expressão e cometeu crime de racismo, “pois praticou discriminação e preconceito racial de gênero por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza, cuja pena é de reclusão de dois a cinco anos e multa”. A ação será julgada na 16ª Vara Federal da PB

Brasília (DF) I –A equipe do site Aos Fatos foi xingada com palavrões em 1º. de fevereiro pelo deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO), ao ser questionado sobre desinformação e ataques feitos por parlamentares eleitos em 2022 em suas contas no Twitter.O tuíte do deputado com mais engajamento concentrava ataques a nordestinos devido ao resultado das eleições presidenciais. A reportagem ainda não havia sido publicada quando Gayer postou em seu Instagram ataques contra os jornalistas do portal. Ao ser consultado sobre o comportamento na rede social, partiu para o ataque desrespeitoso.

São Paulo (SP) II – O portal Consultor Jurídico (Conjur) e o repórter Eduardo Velozo Fuccia se livraram de indenizar o juiz Edmundo Lellis Filho, da Vara do Júri de Santos, por danos morais. Lellis acusou oportal e o profissional de sensacionalismo e de ferir sua imagem em duas reportagens que relatavam casos em que o magistrado teria ordenado a prisão de pessoas sem pedido do Ministério Público. Em um caso, a ação envolvia um grupo de seis policiais. No outro, uma mulher acusada de participação em um homicídio por ter um amante. Para a relatora, desembargadora Ana Zomer, a linha limítrofe entre a notícia e o sensacionalismo não foi extrapolada nos dois casos.

São Paulo (SP) III - O site Diário do Centro do Mundo (DCM) e seu diretor, jornalista Francisco Nogueira, devem ser indenizados em R$ 20 mil pelo ex-ministro Ciro Gomes (PDT). A 3ª Turma Cível do Tribunal de Justiça de SP reformou sentença de primeiro grau e também condenou o ex-governador do CE a se retratar, por meio de nota pública. Na ação, o DCM alegou ter sido ofendido e caluniado pelo político, que chamou o site de notícias e seu diretor de “corruptos” por supostamente terem sido financiados por dinheiro proveniente do esquema do “mensalão”, que envolveu lideranças do PT. Ciro alegou que fez as declarações como forma de rebater textos em que foi chamado de “oportunista político”, “candidato série B”, “coronel mimado” e “destemperado”, entre outras expressões. Em primeira instância, o juízo considerou a ação improcedente. Ao analisar o recurso no TJ-SP, a juíza relatora, Cristiane Vieira, revisou a decisão inicial.  

Brasília (DF) II – A Rede Globo foi condenada pela 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) a indenizar dois homens incriminados em um episódio do programa Linha Direta exibido em 1999. O relator, ministro Antonio Carlos Ferreira, entendeu que “se um programa de televisão viola o direito de imagem de alguém para encenar um crime que não aconteceu, a imprensa deixa de cumprir com sua responsabilidade. A dramatização do falso crime torna o fato ainda pior, exigindo do Judiciário uma punição grave o suficiente para coibir novos abusos no futuro”. Por maioria de votos, o colegiado manteve a indenização com valores corrigidos de cerca de R$ 2 milhões. O processo trata de dois homens denunciados em MG por abusos sexuais cometidos contra quatro crianças. Eles seriam falsos pastores que se vestiam de palhaços para cometer os crimes. O episódio foi exibido antes mesmo da instrução processual, que resultou na absolvição dos dois. Apesar disso, eles ficaram com a pecha de “palhacinhos estupradores” graças à forma novelesca com que a história foi retratada, apresentando fatos como incontestáveis e com a inclusão de depoimentos de psicólogos, autoridades e pais das vítimas.

Cuiabá (MT) - O jornal Folha de S.Paulo e o repórter Fabiano Maisonnave, que agora trabalha em uma agência de notícias internacional, foram condenados em ação de indenização por danos morais movida por uma advogada. O juiz Claudio Roberto Guimarães, da Turma Recursal do Tribunal de Justiça do MT, entendeu que a matéria intitulada “41% da exploração de madeira em MT é ilegal, diz estudo”, apesar de veicular informações verdadeiras, tinha o intuito de difamar a autora da ação, Mauren Lazzaretti, que, além de advogada, foi secretária-adjunta de Licenciamento Ambiental e Recursos Hídricos da Secretaria do Meio Ambiente do MT (Sema/MT). Objeto da ação, a matéria publicada em 2018 tratava da extração ilegal de madeira, com dados levantados pelo Instituto Centro de Vida (ICV). Os réus foram responsabilizados e devem pagar cerca de R$ 9 mil à ex-secretária. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) protestou contra a condenação.

PELO MUNDO

Paraguai - O radialista Alexander Álvarez, apresentador da Rádio Urundey, foi morto a tiros em 14 de fevereiro em Pedro Juan Caballero, na região de Amambay, fronteira com o Brasil. Um motociclista  não identificado atirou em Álvarez quando ele parou seu carro em um semáforo. O jornalista foi levado a um hospital para atendimento mas não resistiu aos ferimentos no rosto.

EUA – O repórter Dylan Lyons, da emissora Spectrum News 13, com base em Orlando, foi morto em 23 de fevereiro ao cobrir o assassinato de uma mulher de 20 anos no bairro Pine Hills. Suspeito do crime, Keith Moses, de 19 anos voltou ao local horas depois e atirou contra Dylan e mais três pessoas, incluindo uma criança de 9 anos que também morreu. A mãe da criança e o cinegrafista que acompanhava o jornalista também foram atingidos, mas sobreviveram. Moses foi preso em flagrante.

Panamá - A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) denunciou o contínuo abuso de processos por difamação contra a mídia e jornalistas e a apreensão preventiva de seus bens como mecanismos de intimidação e amordaçamento para refrear o jornalismo crítico. A SIP apoiou declarações recentes de sua vice-presidência regional, do Conselho Nacional de Jornalistas (CNP), do Fórum de Jornalistas e da Associação Panamenha de Radiodifusão sobre o assédio judicial ao jornalista Mauricio Valenzuela, do portal Foco, e da analista Annette Planells, do Movimento Independente (Movin). Em 8 de fevereiro, sem ainda ser condenada, a juíza Ana Isabel Terán, da Sexta Vara Cível da Primeira Vara Judicial, ordenou a apreensão de bens e propriedades após uma ação por difamação e calúnia movida pelo ex-presidente Ricardo Martinelli (2009-2014).

Colômbia - A Corte Constitucional negou um pedido liminar de tutela apresentado pelo cineasta Ciro Guerra contra as jornalistas Catalina Ruiz-Navarro e Matilde de los Milagros, do portal digital Volcánicas. As profissionais publicaram no site oito denúncias de assédio e abuso sexual contra Guerra em junho de 2020 que o cineasta pretendia que fossem removidas. A Alta Corte sentenciou que as jornalistas apresentaram uma reportagem de interesse público e político.

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A Associação Riograndense de Imprensa (www.ari.org.br) disponibiliza o correio eletrônico imprensalivre@ari.org.braos profissionais e estudantes da comunicação social para as denúncias envolvendo atentados ao livre exercício da profissão de jornalista.

Fontes: ARI (www.ari.org.br), ABI (www.abi.org.br), Fenaj (www.fenaj.org.br), ANJ (www.anj.org.br), Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br), Abert (www.abert.org.br), Abraji (www.abraji.org.br), Portal Imprensa (www.portalimprensa.com.br), Rede em Defesa da Liberdade de Imprensa (www.liberdadedeimprensa.org.br), Portal Coletiva (www.coletiva.net), Portal dos Jornalistas (https://www.portaldosjornalistas.com.br/), Jornalistas & Cia (https://www.jornalistasecia.com.br/),  https://mediatalks.uol.com.br, Consultor Jurídico (https://www.conjur.com.br/areas/imprensa), Sociedade Interamericana de Imprensa (Miami), Federação Internacional de Jornalistas (www.ifj.org) (Bruxelas), Sindicato dos Jornalistas de Portugal (www.jornalistas.eu)(Lisboa), ONG Repórteres Sem Fronteiras (www.rsf.org) (Paris), Portal Comunique-se (portal.comunique-se.com.br), Comitê de Proteção aos Jornalistas (Nova Iorque), Centro Knight para o Jornalismo nas Américas (knightcenter.utexas.edu), ONG Campanha Emblema de Imprensa (PEC), FreedomHouse (www.freedomhouse.org), Associação Mundial de Jornais (www.wan-ifra.org), Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) (http://www.oas.org/pt/cidh/), Fórum Mundial dos Editores, https://forbiddenstories.org/, https://www.mfrr.eu/, https://www.onefreepresscoalition.com/press e outras instituições e entidades de defesa do livre exercício da profissão de jornalista.

Pesquisa e edição: Vilson Antonio Romero (RS)

vilsonromero@yahoo.com.br

 

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